sexta-feira, 30 de outubro de 2015

RIO DE JANEIRO: MUITO MAIS DO QUE UMA CIDADE OLÍMPICA – PARTE III - CONHECENDO A AVENIDA RIO BRANCO




 
Av Rio Branco

      No Centro você segue para Avenida Rio Branco. Também já se chamou Avenida Central. A inauguração da Avenida Central representou o marco da modernidade no Rio de Janeiro. Após a sua inauguração ela se tornou o ponto mais elegante e procurado da cidade, tanto pelas pessoas das classes mais altas como também pelos comerciantes de artigos de luxo e moda. As lojas eram maiores e bem mais espaçosas do que as lojas da Rua do Ouvidor.

Vista da Av Rio Branco


   
     Não bastasse o fato da Avenida Central ser mais larga e moderna, para a abertura da mesma, foi necessário demolir várias casas e cortar inúmeras ruas ao meio. E a rua do Ouvidor foi uma das que teve uma parte de seu trecho derrubado para dar passagem à nova avenida. A frase de uma revista de época retrata a situação futura em relação ao destino da Rua do Ouvidor: "Sobre teu destino pesa a melancolia das dinastias que se extinguem.  A Avenida Central já te ofusca".

 
Avenida Rio Branco

         Mas não foi assim, a nova Avenida tomou a dianteira, mas a Rua do Ouvidor continuou como um endereço nobre para comércio no século 20 e também endereço de grandes edifícios comerciais. Apesar de tudo a Ouvidor resistiu.

 
Teatro Municipal

    
      E seguimos pela Avenida Central, que passo a chamar de Avenida Rio Branco, seu nome atual.  A primeira atração cultural é o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Do outro lado da Avenida fica a Biblioteca Pública Nacional e atravessando de volta fica o Palácio Pedro Ernesto, onde funciona a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. 

Biblioteca Nacional

 
      Depois dessa caminhada, inevitavelmente, você faz uma parada no Bar Amarelinho que fica no local conhecido por Cinelândia, ao lado da Câmara Municipal. Este lugar, a partir da década de 20, concentrou as melhores salas de cinema do Rio.

Bar Amarelinho
  

      No Amarelinho você bebe chope e come algum petisco. O preço não é exorbitante. Duvido muito que você consiga levantar. É o local preferido do pessoal do trabalho que saiu para almoçar e ainda  não voltou e também é muito frequentado por estrangeiros(as).
        O nosso tour só está começando. Acompanhe as nossas postagens porque "a chapa vai ficar quente".(*)

(*) Expressão muito utilizada no Rio de Janeiro que, dependendo do momento, significa  que uma determinada situação pode ficar melhor ou pior.  


Bar Amarelinho

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

RIO DE JANEIRO: MUITO MAIS DO QUE UMA CIDADE OLÍMPICA – PARTE II - HISTÓRIAS DO CENTRO DO RIO DE JANEIRO





 
Confeitaria Colombo


     Se você já chegou na Rua do Ouvidor fica impossível não conhecer outras partes do Centro do Rio. Próximo a Ouvidor tem a Confeitaria Colombo, que fica na Rua Gonçalves Dias. Passar na Ouvidor  e não comer na Colombo é a mesma coisa que ir ao Rio e não visitar o Cristo Redentor.  Nessa região você encontra várias igrejas com mais de dois  séculos de existência.
 
Confeitaria Colombo - vista interna
   Obviamente que você já passou pela Praça XV de Novembro, onde fica o Paço Imperial.  O Beija-mão ocorria no Paço. Foi lá que  D. Pedro I disse “diga ao povo que fico” e foi lá também que a Princesa Isabel assinou a lei que abolia a escravidão no Brasil. 

 
Concentração da multidão em frente ao Paço comemorando a Abolição

 
      O escritor Lima Barreto fez 7 anos nesse mesmo dia e testemunhou o evento. Ele e seu pai participaram dos festejos que tomaram conta das ruas adjacentes ao Paço.


Paço Imperial

    Bem próximo fica a Rua da Quitanda que já teve vários nomes, mas o nome que mais chamou atenção foi Rua  Sucussarará.  Nessa rua clinicava um médico  que, após examinar um paciente (provavelmente com hemorróidas), receitou-lhe e recomendou com forte sotaque britânico: “Tome esse remédio que su c... sarará.”


Rua da Quitanda

     Aos sábados tem uma feira de antiguidades na Praça XV. Vale a pena conhecer. Fica próxima da estação das barcas.  Naquela região fica o Museu Histórico Nacional. Seguindo o tour cultural, na Rua Primeiro de Março você conhece o Centro Cultural do BB, Espaço Cultural dos Correios e a Casa Brasil-França. Tudo bem perto. 


CCBB

Casa Brasil-França

CCBB e ao lado Espaço Cultural dos Correios



     Ainda não acabou. Se você tiver disposição conheça o Espaço Cultural da Marinha. A principal atração é conhecer o palacete da Ilha Fiscal. (É uma ilha que fica na baia de Guanabara e tem um palacete na cor verde em estilo gótico.) Nesse local foi realizado o último baile da monarquia (9 de novembro de 1889) antes da Proclamação da República (os historiadores consideram que foi um golpe de estado). 
Ilha Fiscal

     Esse evento foi muito badalado. Estava marcado para as 20h30, mas desde cedo uma multidão se acotovelava em volta do Cais Pharoux, que dá acesso à ilha, e nas ruas próximas para ver chegarem os convidados. A impressão que se tinha era que boa parte dos 500 000 habitantes que contava o Rio de Janeiro naquela época estava lá. Uma das seis bandas contratadas para a festa animava o povo que prestigiava o evento vaiando ou aplaudindo os convidados. As roupas das mulheres foram adquiridas nas lojas sofisticadas da Rua do Ouvidor. Os cabelos, penteados por cabelereiros franceses, no mesmo endereço. Já os homens abusavam das brilhantinas inglesas nos cabelos e nos bigodes.


Convite

       Registros da festa mostram que foram consumidos em torno de 10.000 litros de cerveja, 304 caixas de vinhos, champagne e bebidas diversas.  Apesar de todos os preparativos e ajustes o palacete da ilha Fiscal não disponha de banheiros suficientes. Para os homens a saída foi “recorrer ao mar”, já as mulheres tiveram que apelar para baldes dispostos em alguns cantos do castelo.
       Uma lista divulgada, dos despojos encontrados nos salões, na manhã daquele domingo incluía, por exemplo, oito raminhos de corpete, três coletes de senhora, dezessete ligas, dezesseis chapéus, nove dragonas, treze lenços de seda, nove de linho e quinze de cambraia. Às 5 horas da manhã, após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram alguns artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas.
           Se você gostou, continue acompanhando as nossas postagens, porque o caminho é longo.

sábado, 24 de outubro de 2015

RIO DE JANEIRO: MUITO MAIS DO QUE UMA CIDADE OLÍMPICA – PARTE I - RUA DO OUVIDOR




          



       Com as Olimpíadas do Rio de Janeiro ocorrendo em 2016 todos os olhares estarão voltados para a cidade maravilhosa.  Visitar o Rio de Janeiro durante  esse grande evento  é uma boa oportunidade de conhecer pessoas de todo o planeta, mas também de fugir das mesmices na hora de fazer um tour pela cidade. Turismo no Rio pode ser mais do que Copacabana, Cristo Redentor, Pão de Açúcar e Maracanã. A antiga sede da Corte e Capital da República é um museu a céu aberto pouco explorado. Faremos algumas  postagens sugerindo alguns roteiros de passeios pela cidade e adjacências, sem custo de ingressos ou quase gratuito.
            Além do ônibus de linha e BRT, o metrô, o trem e a barca são transportes seguros e facilitam o deslocamento na cidade. Você pode conhecer também a cidade de Niterói (barca e ônibus) que fica do outro lado da baia de Guanabara e a Ilha de Paquetá. Mais antes vamos conhecer o Rio "além da Zona Sul."
       



         


     A primeira parada é o centro do Rio. As suas ruas respiram história. Podemos começar nosso tour cultural percorrendo a Rua do Ouvidor. A via era o grande cenário do final do século XIX. Toda a agitação se concentrava naquele local: as lojas mais chiques, as livrarias, as discussões intelectuais nas confeitarias. 





A Rua do Ouvidor começou a ganhar importância com a vinda da família real para o Brasil, por conta da abertura dos portos, em 1808. Comerciantes desembarcavam da Europa e se instalavam naquela área. Por volta de 1821, chegaram as famosas modistas francesas. Até Dona Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil, fazia compras na Ouvidor. O auge da Rua do Ouvidor, porém, foi durante o final do século XIX.









Muitas novidades chegaram primeiro à Rua do Ouvidor. Lá foi instalado o primeiro cinema, o primeiro telefone, e surgiram a primeira vitrine,  a primeira linha de bonde regular da cidade e até o primeiro motel. Primeira rua de pedestres do Rio, a via também foi a primeira a ter obras de calçamento, em 1857, e a receber iluminação elétrica, em 1891.







Na Ouvidor foi fundada a Academia Brasileira de Letras, em 1896. E grande parte dos livros de Machado de Assis foi publicada pela Livraria Garnier, uma das mais importantes da época e que funcionava na Ouvidor.
Vários movimentos literários e políticos nasceram nas confeitarias e cafés da Ouvidor. Além de Machado, Joaquim Manoel de Macedo, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Coelho Netto, Paula Nei, Quintino Bocaiúva, e outras tantas personalidades podiam ser vistas circulando pela rua.  O escritor Lima Barreto era um frequentador assíduo. Muitos jornais tiveram sede na Rua do Ouvidor, como o Jornal do Commercio, o Diário de Notícias e a Gazeta de Notícias.

Machado de Assis




Mas o declínio da via começou com a abertura da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, em 1906, que foi a principal marca da reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos no início do século XX, no Rio de Janeiro.  Os principais comerciantes se transferiram para a concorrente.


Lima Barreto



 Hoje, a maior parte das lojas é de moda feminina, mas sem o charme das modistas ou das grandes vitrines do passado, mas vale a pena conferir e admirar as antigas edificações que hoje também abrigam excelentes restaurantes com música ao vivo sem couvert e com preços acessíveis.


Restaurantes da Rua do Ouvidor




Mas se você gosta de tomar chope em um bar tradicional e com  história, vai seguir  reto e chegar na Rua da carioca, nº 39.  Nesse endereço funciona o Bar Luiz. 
Fundado no Segundo Império por Jacob Wendling, o Bar Luiz chamava-se originalmente Zum Schlauch ("A Mangueira" ou "A Serpentina" em alemão), uma referência ao fato de ali vender-se chope que circulava dentro de uma serpentina imersa no gelo, antes servido.
Embora continuasse na mesma rua, em 1901, o bar mudou de endereço e número, passando para o atual número 39 e a chamar-se Zum Alten Jacob ("ao Velho Jacob"), uma homenagem ao velho Jacob o fundador de origem judaica, mas que já estava retirando-se dos negócios e havia passado a direção do bar para seu afilhado, Adolf Rumjaneck.  
Em 1908, o fundador parte para a Suíça e Adolf assume a direção do estabelecimento.


Bar Luiz


 Nessa época circulam por suas mesas figuras de destaque da época, como os escritores Olavo Bilac e João do Rio. Em 1915, uma lei de valorização da língua portuguesa obriga a uma  mudança no nome do Bar que passa a se chamar Bar do Adolph (embora fosse popularmente conhecido como "Braço de Ferro", em virtude do hábito do proprietário de disputar partidas deste "esporte" com seus clientes). Adolph com problemas de saúde, convida o austríaco Ludwig Vöit para sócio. Em 1926, com a morte de Adolph, Ludwig assume a direção do Bar  e também a tutela da filha de Adolph, Gertrud Rumjaneck. 





 Com o início da Segunda Guerra Mundial o Bar esteve sob a ameaça de ser destruído por estudantes do Colégio Pedro II, após o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães. Para os estudantes o Bar do Adolph era uma homenagem  a Adolf Hitler. O ato só não se concretizou por interferência do músico Ary Barroso, frequentador assíduo, que desfez mal-entendido. Pelo sim, pelo não, Ludwig naturalizou-se brasileiro e adotou o nome de Luiz, pelo qual o Bar passou a ser conhecido daí em diante.  
Ainda não acabou. Só está começando. Acompanhe  as nossas postagens e você nunca mais vai seguir aquele mesmo roteiro  de tour  para turista.