quinta-feira, 5 de agosto de 2021

AS GRANDES SECAS DO NORDESTE: MISÉRIA, EPIDEMIAS, CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO E CURRAIS

Vítimas da seca. Crianças e adultos jazem ao lado da linha férrea que levava para o Campo de concentração de Senador Pompeu.

Vítimas da seca. Crianças e adultos jazem ao lado da linha férrea que levava para o Campo de concentração de Senador Pompeu.


Olá.

       Saudações históricas.

   Após um longo  e doloroso período sem postagens, estamos retornando. O ano de 2020 se foi e com ele muitas pessoas vitimadas pela pandemia da Covid 19. Sobrevivemos e chegamos a 2021 contabilizando  cerca de quinhentas mil vítimas fatais de Covid no Brasil. Não estamos falando apenas números. São famílias destruídas, sonhos interrompidos e muitas dores que ficam.


Estação do campo de contração Senador Pompeu | Às margens da CE-040 é possível encontrar as ruínas da antiga estação do campo Foto: Alex Pimentel.



  Na nossa postagem de retorno abordaremos um momento da História do Brasil que até então tem passado despercebido.  

    Foi nos anos de 1915 e 1932, no Ceará que os chamados “currais do governo”,  serviram para isolar as vítimas da seca. Esses locais tinham por objetivo  impedir que os flagelados vindos de diferentes estados do Nordeste conseguissem migrar para Fortaleza.



Estamos falando de uma catástrofe que provocou muito sofrimento na população mais pobre. 

    Foram períodos seguidos sem chuvas, com perda de plantações, mortes de rebanhos e miséria extrema. A situação foi tão desesperadora, que famílias inteiras se viram obrigadas a migrar para outros estados.

  Para piorar  o quadro da tragédia, houve um surto de varíola, provocando a morte de milhares de pessoas. 

   O Estado mais atingido foi o Ceará, onde cerca de 500 mil pessoas pereceram   em consequência da seca.

    Diante dessa situação, foi construído na cidade de Fortaleza na região alagadiça da atual Otávio Bonfim, o primeiro campo de concentração brasileiro. 


Foto de uma das vítimas da Grande Seca, Ceará, 1878. Foto de Joaquim Antônio Correia, “Vítimas da Grande Seca”, Albúmen, Carte de Visite, 9 X 5,6 cm, Ceará, CA. 1878. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil.


Sim, um campo de concentração. No local cerca de 8 mil pessoas foram acomodadas  e vigiadas por soldados do Exército.  

    Em 1932, uma nova seca castigou  o sertão nordestino, provocando a migração de milhares de pessoas para os grandes centros urbanos e mais uma vez o campo de concentração de Otávio Bonfim foi reativado. 



Foram criados outros locais  cercados por arames farpados e vigiados diariamente por soldados para confinar uma multidão que ficava amontoada. Essas pessoas tinham as cabeças raspadas e eram identificadas por números, permanecendo   dentro dos cercados de Senador Pompeu, Ipu, Quixeramobim, Cariús e Crato. (ou Buriti, por onde passaram mais de 65 mil pessoas)



Nesses locais, além de viver em condições ultrajantes,  muitas famílias, inclusive crianças e idosos, eram obrigadas a trabalhar em grandes obras. Muitos sucumbiram e seus corpos foram enterrados em valas comuns. 




  A historiadora  Kênia Sousa Rios, da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica  que entre abril de 1932 e março de 1933 foram registrados mais de 1.000 mortos somente no Campo de Concentração de Ipu.

   A decisão  de confinar, controlar e vigiar pessoas em locais 'apropriados' já havia ocorrido na seca de 1877-78  na periferia de Fortaleza, mas foi na seca de 1915 que houve o primeiro campo de concentração na região do Alagadiço, atual São Gerardo.


Registro fotográfico dos flagelados da seca de 1877 na estação ferroviária de Iguatu à espera de trem para Fortaleza. Na seca de 1877, Fortaleza chegou a receber retirantes que representavam mais do triplo de sua população. Fonte: "Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na Seca de 1932".

 






  Para saber mais sobre este assunto segue abaixo uma referência bibliográfica, mas já está disponível o   documentário  "Currais",  de David Aguiar e Sabina Colares, conforme o link abaixo:

https://youtu.be/txaietM8pX8


 

Referência bibliográfica:

 

“A Seca de 1877 – 1879“, Fátima Garcia, Fortaleza em Fotos.

– AZEVEDO, Miguel Ângelo. Cronologia Ilustrada de Fortaleza.


– KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 94.


– LESSA, Letícia. Currais de gente no Ceará.


RIOS, Kênia Sousa. Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932. E-book. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2014. 144 p. (Estudos da Pós-Graduação). Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10380. Acesso em: 12 mar 21.


– “Currais Humanos“. Diário do Nordeste

– SÁ, Chico. “Ceará: Nos campos da seca“. Revista Aventuras na História. Editora Abril: 2005.

– Arquivo “O Povo no campo de concentração“. 1932.

Museus de Imagens. Disponível em: https://www.museudeimagens.com.br/grande-seca-do-nordeste/. Acesso em 12 mai 21.


Brazil: The Amazons and the Coast, 1879, págs. 413, 415. Por Herbert H. Smith e ilustrado por J. Wells Champney.

 http://brasilianafotografica.bn.br/?p=1499. Acesso em 23 abr 21.


http://eraofepidemics.squarespace.com/journal/?currentPage=2. Acesso em 23 abr 21.


https://archive.org/details/brazilamazonscoa00smit. Acesso em 23 abr 21.


Campos de Concentração no Ceará. Disponível em: http://plus.diariodonordeste.com.br/campos-de-concentracao-no-ceara/. Acesso em: 12 mar 21.