segunda-feira, 19 de setembro de 2016

BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - A Revolução Federalista




No mesmo ano da Segunda Revolta da Armada, inicialmente no Rio Grande do Sul, entre 1893 e 1895, ocorreu a Revolução Federalista uma guerra civil opondo dois grupos da oligarquia rural pelo controle político do Estado. Foi também um conflito extremamente violento – dez mil mortos em uma população de um milhão de pessoas – e devido ao ato de degolar os combatentes vencidos de ambos os lados, ganhou também a alcunha de Revolução da Degola.


Um dos lados em disputa era formado pelos republicanos ou pica-paus (devido ao uso de roupas azuis e quepe vermelho), organizados em torno do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) e tendo como principal líder o governador do estado, Júlio de Castilhos.
Os castilhistas haviam se fortalecido no poder após a Proclamação da República, em 1889, e devido ao seu ideário positivista de modernização conservadora da sociedade, davam especial papel ao Estado nesse processo. Deveria haver uma centralização estatal para garantir os rumos de um processo de industrialização, além da criação de um mercado consumidor regional para fortalecer essa modernização. A base de apoio social aos castilhistas se encontrava entre os proprietários rurais da região central e norte do Rio Grande do Sul, além da burguesia industrial e comercial.


A eles se opunham os defensores de uma estrutura de governo menos centralizada no Rio Grande do Sul, e estavam organizados em torno do Partido Federalista. A liderança era exercida principalmente por Silveira Martins, sendo conhecidos como federalistas ou maragatos, termo uruguaio dado aos estrangeiros de origem espanhola.
Muitos dos federalistas eram liberais-conservadores que apoiavam os ideais monárquicos. Sua base social de apoio e origem eram os grandes latifundiários produtores de charque e couro do Sul do estado. Eles estavam insatisfeitos com a intervenção do Estado na economia, ação empreendida por Júlio de Castilhos, que havia intensificado a cobrança de impostos e criado barreiras ao contrabando nas fronteiras do estado.


Os conflitos se iniciaram em fevereiro de 1893, quando um grupo de federalistas que estavam emigrados no Uruguai e Argentina invadiu o Rio Grande do Sul e tentou tomar a cidade de Bagé. Os conflitos se estenderam por todo o estado chegando inclusive a se estender aos estados de Santa Catarina e Paraná, onde os federalistas tomaram a capital, Curitiba.

O presidente Floriano Peixoto decidiu pela intervenção de tropas do exército federal no conflito, a favor dos republicanos. O conflito tomou dimensões nacionais com essa intervenção, agravado pelo fato de os opositores de Floriano, que organizaram a Revolta da Armada, em 1893, no Rio de Janeiro, terem se aliado aos federalistas.
Apesar do empenho de Floriano Peixoto em encerrar o conflito, foi apenas em agosto de 1895, no governo de Prudente de Morais, que a Revolução Federalista teve fim. Morais conseguiu um encerramento relativamente pacífico do conflito, anistiando boa parte dos líderes maragatos.


BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - A Revolta da Armada



A Revolta Armada (1891-1894), ocorrida no Rio de Janeiro foi uma rebelião da Marinha do Brasil, os quais bombardearam a capital por meio dos navios de guerra da marinha, os chamados “encouraçados” (Aquidaban, Javary, Sete de Setembro, Cruzador República, Cruzador Tamandaré, cruzador Trajano, Orion, corveta Amazonas, canhoneira Marajó, dentre outros). Para os historiadores a revolta da armada começou com a renúncia de Deodoro da Fonseca, em 1891, e por isso, é dividida em dois momentos:
Primeira Revolta da Armada ocorrida no governo de Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do país e a Segunda Revolta da Armada, dessa vez no governo de Floriano Peixoto, segundo presidente do país que assumiu a presidência após a renúncia de Deodoro.



O objetivo principal da revolta da armada, consistia em igualar os direitos e salários do exército e da marinha, uma vez que a “República da Espada” (1889-1894) representou o governo de dois militares: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Assim, a marinha, insatisfeita, declara a revolta, sendo seus principais líderes: Saldanha da Gama e Custódio de Melo. 


 

Marechal Deodoro da Fonseca

Além das divergências políticas, a marinha alegava ilegitimidade no governo de Floriano, com a deposição de Deodoro da Fonseca (1891), após dois anos do governo provisório, uma vez que, segundo a Constituição de 1891, novas eleições deveriam ser feitas, o que não ocorreu, deixando grande parte da população (Na verdade as oligarquias cafeeiras do partido republicano) descontente.


Marechal Floriano


Com efeito, eles ansiavam pela saída de Floriano do cargo da Presidência da República e a entrada do Almirante Custódio de Melo (1840-1902), oficial da Armada do Império (1891) durante o governo de Deodoro e Oficial da Marinha, no governo de Floriano.




Os principais líderes responsáveis pelo movimento eram os almirantes Luís Filipe de Saldanha da Gama e Custódio José de Melo, que atacaram a Baía de Guanabara e a cidade de Niterói; reprimidos pelo exército, alguns rebeldes se juntaram com a revolução que ocorria no sul do país: a revolução federalista. Entretanto, com apoio da população, do exército e do partido republicano paulista (PRP), Floriano, o "Marechal de Ferro", como ficou conhecido, saiu vitorioso, em 1894, consolidando assim, a República no país.








sexta-feira, 9 de setembro de 2016

BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - A Revolta da Chibata





Em novembro de 1910  as tripulações do Encouraçado São Paulo, do Encouraçado Deodoro, do Encouraçado Minas Gerais e do Cruzador Bahia, lideradas pelo marinheiro João Cândido, se revoltaram no Rio de Janeiro contra os maus tratos, a má alimentação e o excesso de trabalho. Com os canhões das belonaves apontados para a capital do país, exigiram o fim dos castigos físicos a bordo.



Conforme relatos, a  noite foi tensa, a população do Rio de Janeiro pôde, então, ver os navios de guerra desfilando pela baia de Guanabara, evoluindo entre as ilhas Fiscal, das Cobras e Villegagnon com bandeiras vermelhas tremulando. A cor mostrava que a embarcação estava rebelada e convocava os marinheiros para a luta. Os corpos dos mortos em combate foram depositados no cais. Em terra, a população estava assustada com os acontecimentos. Famílias inteiras deixaram o Rio de Janeiro temendo um bombardeio. Foram dados alguns disparos de advertência pelos navios revoltosos que também fizeram vítimas civis.


Quem era João Cândido Felisberto? Nascido em Encruzilhada do Sul (Província do Rio Grande do Sul), em 1880. Filho de João Cândido Felisberto e Inácia Felisberto (escravos libertos), João Cândido alistou-se na Marinha do Brasil  em 1984 e foi um dos líderes da Revolta da Chibata.





Os amotinados, liderados pelo marinheiro João Cândido Felisberto, apelidado pela imprensa da época de “Almirante Negro”, tiveram suas reivindicações atendidas – a punição com chibatadas foi extinta –, mas uma semana depois quase todos foram presos, mortos ou mandados para seringais na Amazônia.
Desde o Império, os marinheiros brasileiros eram quase todos negros ou mulatos recrutados pela polícia e comandados por oficiais brancos. De acordo com seu código disciplinar, não podiam se casar, e as faltas graves eram punidas com “vinte e cinco chibatadas, no mínimo”. Com a Proclamação da República em 1989 a punição foi extinta, mas foi reabilitada um ano depois, embora fosse considerada degradante porque toda a tripulação deveria assistir ao castigo, reunida no convés dos navios.






A punição no dia 16 de novembro ao marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses no encouraçado Minas Gerais adiantou os acontecimentos. Marcelino recebeu 250 chibatadas por levar cachaça a bordo e ferir um cabo a navalha. Desmaiou, mas o castigo prosseguiu, o que revoltou a tripulação. Na noite de 22 de novembro, quando chegaram à baía de Guanabara, os marinheiros do Minas Gerais mataram seis oficiais, entre eles o comandante Batista das Neves, que voltava de um jantar no navio francês Duguay-Trouin.
Um dos oficiais, o segundo-tenente Álvaro Alberto, escapou para o encouraçado São Paulo e avisou os outros oficiais, que fugiram para terra firme. Ainda mesma noite, o motim alastrou se para os encouraçados São Paulo e Deodoro, o cruzador Bahia e a quatro embarcações menores.
No dia seguinte, um ultimato foi enviado ao governo, redigido pelo marinheiro Francisco Dias Martins, que se autodenominava Mão Negra, mas atribuído a João Cândido.
Os marinheiros exigiam anistia para os revoltosos e o fim das chibatadas, ameaçando, caso não fossem atendidos, com o bombardeio do então Distrito Federal em 12 horas. Como a subversão da hierarquia era um dos principais crimes para as forças armadas, a Marinha, o Congresso e o governo divergiram quanto à resposta a ser dada aos rebelados.




A incapacidade de derrotar o motim ficou patente no dia 24 de novembro, quando duas embarcações foram rechaçadas pelos amotinados, que também bombardearam a instalações da Marinha na ilha das Cobras e dispararam contra o palácio do Catete, sede do governo federal. Parte da população da cidade fugiu para longe da orla, e outra parte foi ver os navios amotinados. A tentativa do deputado e capitão de mar e guerra José Carlos de Carvalho de negociar com os marinheiros foi infrutífera, e no dia seguinte, 25 de novembro, o ministro da Marinha, almirante Joaquim Marques Batista Leão, determinou que os navios rebelados deveriam ser postos “a pique, sem medir sacrifícios”. O governo e o Congresso, no entanto, não concordavam. Rui Barbosa, deputado e candidato à presidência da República derrotado por Hermes da Fonseca, considerava os castigos corporais abusivos após a abolição da escravatura e defendia a anistia dos rebelados. Esta veio no dia 26 de novembro, quando o presidente Hermes da Fonseca declarou que os castigos físicos estavam abolidos e que os revoltosos que se entregassem seriam anistiados. As armas foram depostas, e as embarcações devolvidas no dia 27, terminando assim a rebelião. No entanto, no dia seguinte, alguns marinheiros foram expulsos da corporação, acusados de indisciplina.





Uma semana mais tarde, em 4 de dezembro, quando quatro marinheiros foram presos, os fuzileiros navais da ilha das Cobras se sublevaram, mas foram bombardeados durante todo o dia, mesmo tendo se rendido. Havia seiscentos revoltosos dos quais pouco mais de cem sobreviveram e foram detidos na fortaleza de São José, na mesma ilha. Entre eles, 18 foram recolhidos numa cela escavada na rocha viva. No dia seguinte, havia apenas dois vivos, João Cândido e o soldado conhecido como Pau de Lira. Outros marinheiros foram levados à força para seringais na Amazônia, e parte foi fuzilada no caminho. Ao ser solto, João Cândido tentou reunir novamente o comitê de marinheiros, tentou ser recebido por Rui Barbosa e Severino Vieira, outro deputado favorável ao atendimento das reivindicações dos rebelados, negou ser contra a manifestação, mas foi expulso da Marinha. Seis meses depois, em abril de 1911, foi detido no Hospital dos Alienados como louco. Solto e absolvido em 1912, tornou-se estivador e vendedor de peixes no mercado da Praça XV, em frente ao porto. Sua ficha na Marinha informava que, em 15 anos, havia sido castigado nove vezes, preso em celas solitárias e rebaixado duas vezes de cabo a soldado. Continha ainda dez elogios por bom comportamento, o último em agosto de 1910, três meses antes da revolta. João Cândido morreu em 1969, aos 89 anos, esquecido, mas não sem antes registrar seu depoimento no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Não se tem notícia de seus companheiros de rebelião.





Na década de 1970,  a Revolta da Chibata voltou à  baila com Mestre-sala dos mares, música de João Bosco e Aldir Blanc no estilo de samba-enredo, que homenageava João Cândido. A menção, na letra, a seu apelido Almirante Negro foi censurada e substituída por “navegante negro”. Em 22 de novembro de 2007, no aniversário de 97 anos da Revolta da Chibata, João Cândido foi homenageado com uma estátua que ficou nos jardins do Museu da República e, agora, encontra-se na Praça XV, próxima a antiga estação das barcas. Em 24 de julho de 2008 o Diário Oficial da União  publicou a Lei n° 11.756, que lhe concedeu anistia, mas vetou sua reintegração à Marinha.

FONTES: ROLAND, M. Revolta; SILVA, M. João Cândido.
Sobre o assunto, segue o link para assistir ao documentário.

https://youtu.be/pgmFiwj8Y5k