segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A HISTÓRIA PERDIDA DE EVA BRAUN

      Por sugestão  de um amigo iniciei a leitura do livro A História Perdida de Eva Braun. Trata-se da biografia da mulher que esteve ao lado de Adolf Hitler durante quase toda sua trajetória política até o final sangrento em um bunker em Berlim.  A vida de  Eva é  desconhecida. Nascida na Baviera em uma família de classe média (que o futuro ditador alemão conheceria em um estúdio   de seu fotógrafo oficial),  Eva esteve  completamente apagada da história.  Acompanhar a vida de Eva Braun é acompanhar sua transição de estudante em Munique a amante do líder nazista em ascensão, e, a seguir, do chanceler do III Reich.
       Escrito pela jornalista inglesa Angela Lambert, o  livro deixa claro que Eva Braun tenha tido qualquer papel ativo nos eventos terríveis de que foi testemunha. É uma boa sugestão de leitura sobre os bastidores da Segunda Guerra Mundial. 






sexta-feira, 8 de setembro de 2017

E A COBRA FUMOU – O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL







Após um longo tempo sem uma postagem, estou retornando. Vamos falar sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e para isso precisamos falar sobre a FEB. Criada em 1943, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) combateu com os Aliados nos campos de guerra europeus. Após um acordo que concedia terras do nordeste brasileiro como base para os EUA, o Brasil deixa de ser neutro na Segunda Guerra Mundial e passava a preparar um efetivo de soldados para o combate. A opinião brasileira da época desacreditava que o seu pequeno exército conseguiria ir de fato lutar ao novo mundo, e diz que era mais fácil fazer uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil ir à guerra.






O Brasil só declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) três anos depois do início dos confrontos. Até então, declarava-se neutro, posto que o governo de Getúlio Vargas mantinha fortes ligações comerciais com a Alemanha. O torpedeamento de navios brasileiros somou-se à pressão norte-americana, que estava do lado dos Aliados (com França, Inglaterra e União Soviética).



De 1941 até 1943, 33 navios brasileiros afundaram decorrentes de ataques dos países do Eixo, motivando a população ir às ruas no Rio de Janeiro cobrando um posicionamento de Vargas. Estima-se que 971 brasileiros morreram em virtude desses ataques.



Como barganha, o presidente Vargas aproveitou para obter dos Estados Unidos a promessa de reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras e de construção de uma grande usina siderúrgica, a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. Até aí, ressalta a historiadora Carmen Rigoni, a FEB não tinha sido montada. Vargas, enfim, declarou guerra em agosto de 1942.



No início de março de 1943, Vargas aprovou proposta do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, sugerindo a criação da força expedicionária. O próprio símbolo adotado pela FEB, um escudo com o desenho centralizado de uma cobra fumando cachimbo, surgiu como uma provocação aos que diziam ser mais fácil uma cobra fumar do que o país entrar na guerra.


O historiador Dennison de Oliveira, da UFPR, ressalta que o projeto de mandar as tropas para guerra é brasileiro. “Os Estados Unidos não queriam. Para eles, bastava o apoio formal. Isso reforçaria que os Estados Unidos lutariam pelas Américas”, revela.

No mesmo dia em que Hitler se suicida em Berlim, apresentam-se à FEB como prisioneiros de guerra o comandante da 148ª DI alemã, general Otto Fretter Pico, acompanhado de 31 oficiais.
Outro feito dos pracinhas que entrou para a história foi a detenção da 148.ª Divisão de Infantaria alemã, fazendo 15 mil prisioneiros, incluindo dois generais quando a guerra já rumava para o fim. A FEB encerrou a campanha na Itália como a única divisão daquele front a aprisionar uma divisão alemã inteira.





Abaixo segue a sugestão de livros sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.


Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial, de Francisco César Ferraz que  é um dos historiadores mais categorizados quando o assunto é a participação dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial. “Foi na localidade de Montese que os expedicionários brasileiros enfrentaram o maior número de baixas em sua campanha, em 14 de abril de 1945. 

Barbudos, Sujos e Fatigados — Soldados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial, de Cesar Campaniani Maximiniano que é Doutor em História pela USP. O autor conecta depoimentos dos expedicionários com pesquisa e interpretação histórica rigorosas. Trata-se de uma análise precisa da guerra — sem deixar de ser sua crônica.

1944: O Brasil na Guerra. O livro do historiador Hélio Silva é um clássico, relativamente superado por estudos mais recentes, mas permanece como uma boa crônica factual.

Nossa Segunda Guerra — Os Brasileiros em Combate, 1942-1945,
de Ricardo Bonalume Neto. O autor desmonta o livro do jornalista William Waack, mas sua intenção é mais ampla: é contar como os brasileiros atuaram na Itália, em condições dificílimas.

O Brasil na Mira de Hitler, de Roberto Sander. O jornalista Roberto Sander mostra que os alemães de fato bombardearam navios brasileiros (mais brasileiros morreram devido aos torpedeamentos de navios do que no front italiano). Não foram os americanos para forçar o país a entrar na guerra ao lado dos Aliados. 

A Estrada para Fornovo, de Fernando Lourenço Fernandes.O autor diz que “campanha da Itália” era “uma frente secundária”, o que não quer dizer sem importância. Citando Rubem Braga, o pesquisador anota que o “pessoal da FEB” enfrentou “uma guerra dura, com um contingente mal treinado, mas que se” saiu “bem e dignamente”. Fernandes sustenta que a FEB não enfrentou apenas “divisões fracas” na Itália. 


A Guerra Que Não Acabou — A Reintegração Social dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000), de Francisco César Ferraz, doutor em história pela USP. O autor escreveu um livro crucial para que o leitor entenda o que aconteceu com os pracinhas durante e após a guerra. “Os soldados eram recrutados nas classes mais pobres da sociedade. Alguns dos recrutados viam na instituição militar a garantia de um emprego, refeição, abrigo.

Aliança Brasil-Estados Unidos — 1937-1945, de Frank D. McCann. O brasilianista Frank D. McCann é um dos maiores estudiosos do Exército (“Soldados da Pátria — História do Exército Brasileiro: 1899-1937” é brilhante). O historiador americano registra: “Os alemães estavam estupefatos com a determinação dos brasileiros. Um capitão alemão em Monte Castello contou a um tenente brasileiro feito prisioneiro de guerra: ‘Francamente, vocês brasileiros ou são loucos ou muito corajosos. Nunca vi ninguém avançar contra metralhadoras e posições bem defendidas com tanto desprezo pela vida… Vocês são verdadeiros demônios’”. 

Quebra-Canela — A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália, de Raul da Cruz Lima Junior. Quem viu o  filme “Estrada 47”, de Victor Ferraz, no qual militares brasileiros desmontam minas para a passagem das tropas que atacam nazistas alemães na Itália, certamente apreciará o livro “Quebra-Canela — A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália”, do general Raul da Cruz Lima Junior. “O bravo pelotão da Infantaria do tenente Iporan foi a primeira tropa do 11º RI a penetrar na cidadela de Montese, na tarde do dia 14 de abril de 1945; fê-lo com tal ímpeto que surpreendeu os observadores inimigos postados na torre da Igreja.

Os Soldados Brasileiros de Hitler, de Dennison de Oliveira. O historiador presume “que algumas centenas de brasileiros lutaram na Segunda Guerra Mundial sob a bandeira da Alemanha nazista (leia resenha aqui). O soldado Karl, que nasceu na Alemanha mas morou no Brasil e tinha irmãos brasileiros, lutou ao lado do general alemão Erwin Rommel e morreu em 1942.

Crônicas da Guerra na Itália, de  Rubem Braga. Algumas das mais belas páginas sobre a participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial foram escritas por um correspondente de guerra que também era escritor. 

Os Soldados Alemães de Vargas, de Dennison de Oliveira. O autor  revela que pelo menos 800 dos militares que integraram a FEB eram de origem alemã. Bruno Larsen foi o “único caso de um integrante da FEB que desertou do serviço ativo em face do inimigo e a ele espontaneamente se rendeu [em 3 de dezembro de 1944], tendo colaborado, em algum grau, com informações e serviços em prol do esforço de guerra alemão”. Larsen alegou cansaço de guerra e que “não queria combater contra os alemães”. 

“As Duas Faces da Glória”, do jornalista William Waack. O subtítulo do livro é “A FEB Vista Pelos Seus Aliados e Inimigos”. O livro é frágil, como notaram os historiadores Frank D. McCann e Cesar Campiani Maximiano e o jornalista Ricardo Bonalume Neto. Acredita-se que a razão é a falta de conhecimento das particularidades do meio militar. Pesquisadores chegam a falar em “ignorância”. Mas há também o preconceito contra militares, sobretudo devido à ditadura instalada no país em 1964.

Senta a Pua!, de Rui Moreira Lima. A história da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial é quase sempre vista do prisma do Exército. Por isso, e por sua alta qualidade, o livro “Senta a Pua!” é importante. Trata-se da “história dos homens que integraram o Grupo de Caça Brasileiro e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO)”. Rui Moreira Lima participou da batalha e foi um piloto bem-sucedido. Ele executou 94 missões nos céus da Itália. 
  Para concluir nossa abordagem sugiro assistir ao filme A estrada 47, que versa sobre a participação do Brasil na 2GM. Segue o link abaixo.

https://youtu.be/HiJxaJKkzLM




domingo, 4 de junho de 2017

50 ANOS DA GUERRA DOS SEIS DIAS E O ÚLTIMO CONTINGENTE















O dia 5 de junho de 2017 marca 50 anos da ocupação da Faixa de Gaza, ocorrida na manhã em 5 de junho de 1967, dando início da Guerra dos Seis Dias. Sobre tal fato merece destaque a presença de militares do Brasil no conflito. Para muitos brasileiros parece estranho falar do Brasil na Guerra do Seis Dias, mas de fato ao raiar do fatídico evento, vários militares brasileiros estavam na Faixa de Gaza e no Monte Sinai. Na produção da minha dissertação de Mestrado abordei o tema utilizando várias fontes. Bibliográficas, documentais, fotográficas e entrevistas com ex-integrantes dos contingentes do Batalhão Suez. Boa parte da documentação pesquisada ainda não foi utilizada e eu postarei algumas no blog. A minha primeira postagem neste blog foi um vídeo com essas entrevistas e tem a duração de  cinquenta minutos.
A nossa pesquisa teve início em 2006, com o material encontrado no Arquivo Histórico do Exército, na cidade do Rio de Janeiro e foi concluída com as entrevistas em  junho de 2015, após a defesa da dissertação. 
Com o conflito do Canal de Suez (1956-1957) a Organização das Nações Unidas (ONU), convocou alguns países para participar do processo de paz naquela região e o Brasil, que na época tinha Juscelino Kubitschesk como Presidente, aceitou o convite e em 1957 enviou o primeiro contingente de militares para o Oriente Médio, permanecendo  até junho de 1967.
O Batalhão Suez, que junto com os exércitos de mais 8 países, (Canadá, Colômbia, Dinamarca, Índia, Indonésia, Noruega, Suécia e Iugoslávia) constituiu a UNEF, United Nations Emergency Force, criada com a finalidade de apaziguar a Guerra no Canal de Suez (1956/57).
Optei em entrevistar os militares gaúchos que participaram do primeiro, quinto, décimo terceiro e vigésimo contingentes. O Rio Grande do Sul, especificamente Porto Alegre, enviou militares que formaram alguns contingentes quase completos do Batalhão Suez. É importante ressaltar que, embora tais contingentes fossem requisitados exclusivamente no RS, sua constituição se dava por militares de diversas partes do Brasil, que estavam servindo nessas unidades.
O 5º contingente teve sua base formada em Porto Alegre. Após sua mobilização, foi enviado ao Rio de Janeiro para um período de treinamento e preparação, como era a norma vigente. Sua partida se deu em doze de agosto de 1958, a bordo do Navio de Transporte de Tropas “Ary Parreiras”, com destino a Port Said, no Egito, aonde chegaram a oito de setembro de 1958 e os outros contingentes obedeceram o mesmo procedimento com algumas modificações.
          Mas nesta postagem vamos ressaltar o 20º contingente que foi  aquele que gerou mais repercussão na imprensa e na própria “desconhecida” história do Batalhão Suez como um todo. Os militares do 20º contingente estavam na missão da ONU quando eclodiu a inesperada “guerra relâmpago”, desencadeada pelas tropas de Israel ao amanhecer daquele dia  em 1967.
Abaixo, segue uma reportagem da revista O Cruzeiro, disponibilizada no site da Associação dos Integrantes do Batalhão Suez.

"A revista O Cruzeiro, edição de 01 de julho de 1967 publicou uma denúncia dos soldados brasileiros de que os soldados israelenses que invadiram Gaza humilharam e saquearam os militares brasileiros que ainda lá se encontravam quando explodiu a guerra. No dia 5 os soldados israelenses entraram no campo Rafah, por cuja segurança o Brasil era o responsável; 4º) – A tropa brasileira no campo Rafah foi atacada pelos soldados israelenses e posteriormente concentrada fora do campo sob o controle de Israel; 5º) – Todo o armamento brasileiro do Campo Rafah foi recolhido por Israel, sendo transportado para lugar ignorado; a tropa foi  desarmada; 6º) – Ainda na manhã de 5 de junho, a tropa do campo Rafah foi alvo do fogo das armas de TIRO TENSO (metralhadoras) e de TIRO CURVO (morteiros e canhões); 7º) - A tropa brasileira foi concentrada e mantida em uma área sob a vigilância do Exército de Israel A PARTIR DAS 18 HORAS DO DIA 5  ATÉ AS 7 HORAS DA MANHÃ DO DIA 6. A ordem recebida dos comandantes israelenses foi de FICAREM SENTADOS TODOS SEM FALAR; 8º-) Toda a tropa foi mantida sentada – oficiais e praças. Com muita insistência, foram fornecidos cobertores, porque a noite era muito fria; [...] 10º) Durante a operação no interior do campo Rafah HOUVE PILHAGEM, por parte da tropa de Israel, do material pessoal brasileiro, com grave prejuízo para todos. Aquêles que tinham comprado e economizado alguma coisa, tudo ou quase tudo perderam. (Revista O Cruzeiro, 01 jul 1967)". Disponível em: www.batalhaosuez.com.br

Na produção da minha dissertação entrevistei alguns veteranos do Batalhão Suez que participaram da missão de paz na Faixa de Gaza. A partir dessas entrevistas prometi a esses veteranos que  produziria um vídeo com os seus relatos, já  que existe uma lacuna na nossa história que mantém esses fatos longe do conhecimento da população brasileira. Abaixo Segue o link com o vídeo.

https://youtu.be/jr15k4HBgpM



  

segunda-feira, 22 de maio de 2017

BERLIM 1945: A QUEDA


Berlim destruída


       Após várias  interrupções finalmente concluí a leitura  do livro Berlim 1945: a queda, de autoria do historiador britânico Antonyd Beervor. A obra recebeu sérias  críticas  do  governo  russo após  o seu  lançamento. Beervor relata  as ações  do Exército  Vermelho durante e depois da conquista  de Berlim. Entre inúmeros   assuntos polêmicos o autor ressalta fatos relacionados aos estupros cometidos pelos militares. Segundo o historiador “no total, acredita-se que  pelo menos 2 milhões  de alemãs  foram estupradas durante a ocupação”. Beervor narra desde o cotidiano dos soldados nos campos de batalha  até o dia a dia dos civis que percorrem as ruas  da cidade  em ruínas  em busca de alimentos em meio ao  caos que se instala  após  os bombardeios.





quarta-feira, 19 de abril de 2017

A HISTÓRIA DO RACISMO NO FUTEBOL BRASILEIRO

Rei Pelé


Em 2012, já com o espírito voltado para a Copa do Mundo de 2014 elaborei uma resenha do livro O Negro no Futebol Brasileiro, de autoria do escritor Mario Filho, publicado em 1947. Esta resenha foi publicada no site  Observatório da Imprensa. Para a minha surpresa, ela foi utilizada na prova de Língua  Portuguesa do concurso para o preenchimento de cargos técnico-administrativos  do Instituto Federal  de Pernambuco em maio de 2014.
A história do racismo no futebol brasileiro
Por Julio Ribeiro Xavier em 10/04/2012 na edição 689, Observatório da Imprensa.

Em tempo de Copa do Mundo, tendo o Brasil como país-sede em 2014, é sempre bom lembrar a trajetória da nossa “paixão nacional”. E ninguém melhor do que o jornalista e escritor Mario Filho para abordar o assunto. Mario Filho nasceu em Pernambuco, viveu no Rio e trabalhou nos jornais A ManhãA Crítica e O Globo. Depois dirigiu o Jornal dos Sports até a sua morte, em 1966. A prática de racismo no futebol não é uma novidade no Brasil. Mario Filho tratou do assunto em 1947. Com O Negro no Futebol Brasileiro, livro publicado em 1947, o jornalista abordou um assunto incômodo para a época: o lento e doloroso ingresso de negros e mulatos no futebol brasileiro. Afinal de contas, até pouco tempo, nossa sociedade pregava aqui e no exterior que a nossa democracia racial era um exemplo para o mundo de convivência harmoniosa entre negros e brancos.

 
Banana atirada no jogador Grafite durante o jogo da Seleção Brasileira em 28 Abr 2005

  Nos primórdios, no nosso “esporte nacional”, ainda não era comum jogar banana ou xingar um jogador negro de “macaco” nos campos de futebol. Naquela época, futebol era coisa de branco e rico. Introduzido no Brasil pelos ingleses que aqui chegaram, no futebol não se admitia mulato ou negro nos campos, e nas arquibancadas eram raridade. Era o Brasil onde o futebol tinha um sentido aristocrático. Era “coisa de bacana”.
Com a vitória da equipe brasileira no Campeonato Sul-Americano em 1919, a imprensa e alguns escritores, como Coelho Neto, passaram a dar grande destaque ao futebol, que entrou no gosto do povo. Em 1921, o então presidente Epitácio Pessoa “recomendou” que o Brasil não levasse jogadores negros à Argentina, onde se realizaria o Sul-Americano daquele ano. Era preciso, segundo ele, projetar no exterior uma “outra imagem” nossa, composta “pelo melhor de nossa sociedade”.
  
  


Cínico e hipócrita
Era a política do Estado brasileiro, em relação à sua população negra, alcançando o futebol. O primeiro herói mulato do futebol brasileiro foi um atacante de cabelos crespos, filho de pai alemão e mãe negra. Friedenreich, do Paulistano (SP), se tornou ídolo em 1919, depois de fazer um gol contra o Uruguai. “O povo descobria, de repente, que o futebol deveria ser de todas as cores, futebol sem classe, tudo misturado, bem brasileiro,” escreveu Mario Filho.
O livro aborda a inovação da equipe de futebol do Clube Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, que era oriundo da Segunda Divisão e que, utilizando um time formado por brancos, negros e mulatos, conquistou o título da Primeira Divisão do campeonato carioca enfrentando equipes formadas apenas por brancos. Mas Mario Filho lembra um comentário de um dirigente vascaíno da época: “Entre um preto e um branco, os dois jogando a mesma coisa, o Vasco fica com o branco. O preto é para a necessidade, para ajudar o Vasco a vencer.”
Mario Filho foi mais além ao lembrar o torneio do Natal entre as equipes de futebol do Rio de Janeiro e São Paulo. No dia 25 de dezembro de 1916, paulistas e cariocas disputaram um jogo de seleções em São Paulo. Como muitos brancos se recusaram a jogar no Natal, os cariocas completaram o time com negros e mulatos. No campo, uma derrota: 9 a 1. Após o jogo, os cariocas afirmaram que a seleção não representava o verdadeiro Rio. “A real possuía família e jamais deixaria seus parentes solitários numa noite de Natal. Só negros e mulatos eram capazes de agir dessa forma.”
Ao escrever um livro dedicado a abordar a trajetória dos negros e mulatos no futebol brasileiro, Mario Filho conhecia bem o campo em que estava pisando. O campo do racismo cínico e hipócrita que persiste até os dias de hoje e que faz muitos estragos não só nos gramados, mas em toda a estrutura da nossa sociedade.
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 Segue abaixo um link sobre o assunto. Assista ao documentário A ilusão da democracia racial no futebol brasileiro


https://youtu.be/KbWqm6hbMuA











quinta-feira, 30 de março de 2017

GUERRA E TRAIÇÃO NO BRASIL COLONIAL

Batalha dos Guararapes – quadro de Victor Meirelles (1832-1903) 



A Invasão holandesa ocorrida em 1630 foi um período de ocupação do nordeste brasileiro pelos Países Baixos durante o século XVII.
Uma boa oportunidade de aumentar o conhecimento sobre este período da História do Brasil é ler o livro Traição (2008) do Professor de História da Universidade Federal Fluminense, Ronaldo Vainfas.
O livro conta a história de Manoel de Moraes, um jesuíta nascido em São Paulo no final do século 16 que era missionário em Pernambuco que no contexto da ocupação de Pernambuco pelas tropas holandesas, após combater no lado pernambucano, passou para o lado holandês em 1634, traindo a resistência. Moraes acabou se mudando para a Holanda, onde trocou o catolicismo pelo calvinismo. Lá, ele casou, teve filhos e dedicou-se a várias atividades.
O livro de Vainfas revela que  enquanto Calabar, tido como o principal traidor, é figura certa nos livros didáticos de Ensino Médio, Manoel de Moraes sequer aparece nos manuais didáticos.
Segundo Vainfas, Calabar como traidor da pátria brasileira é um anacronismo que, no entanto, convinha a um tempo em que os historiadores estavam empenhados em construir uma história pátria, confundida com memória da então jovem nação brasileira.
Para o  autor Calabar traiu. Mas traiu o rei de quem era súdito, Filipe II de Portugal ou Filipe IV de Espanha. E traiu, sobretudo, Matias de Albuquerque, o comandante da resistência que tinha depositado enorme confiança nele – que, por isso, foi implacável ao capturá-lo. Trair o Brasil, Calabar não traiu, porque não existia o Brasil como nação.
 No livro Vainfas ressalta que ele não foi o único, embora tenha sido o mais famoso e um dos primeiros.
A maior parte dos que passaram para o lado holandês foi motivada pela convicção de que a derrota era certa. O rei de Espanha, que também era o de Portugal, mal enviava reforços. As derrotas militares se sucediam. A perspectiva de fazer negócios rendosos com os holandeses pesou.

Enfim, é um livro importante para quem busca um pouco mais de  conhecimento histórico.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

DOCUMENTOS DA GUERRA DO CONTESTADO


Hoje minha postagem é dedicada ao trabalho de pesquisa que estou realizando sobre a Guerra do Contestado. Em 2010 estive no Arquivo Histórico do Exército onde tive a oportunidade de acessar ao  conteúdo referente as correspondências e relatórios de combate. A ideia inicial é utilizar essa documentação na produção de um “áudio documentário”. O que seria isso? a partir das transcrições dos radiogramas, relatórios e boletins, narrar  os diálogos dessa documentação. Para isso estou na difícil tarefa de transcrever os conteúdos. A dificuldade que tenho encontrado se refere a linguagem da época.  Seguimos na missão.