sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O QUE É UM TARIMBEIRO?





Militares brasileiros na Guerra do Paraguai



Nesta postagem vamos abordar as origens e o significado do termo “tarimbeiro” e qual a sua importância nas Forças Armadas. De acordo com os dicionários, tarimba é um estrado de madeira, uma cama rústica, dura e muito desconfortável, onde dormem os soldados nos quartéis e postos de guarda. 

Luiz Alves de Lima e Silva - Duque de Caxias

A definição de tarimbeiro no dicionário de Português é quem dorme na tarimba. Soldado grosseiro, malcriado, o oficial que passou pelos postos de soldado, cabo e sargento sem ter feito os cursos de formação de oficiais. No Brasil o termo tarimbeiro, até algum tempo, era um termo pejorativo utilizado pelos oficiais formados por academias militares, portanto, de formação superior, para designar oficiais do Exército que não frequentaram aquele tipo de escola. Esses oficiais de carreira eram considerados inferiores e de menos inteligência. Na época do Segundo Império, tarimbeiros eram oficiais que chegavam até altos cargos da hierarquia por bravura, e heroísmo em combate, não tinham o "refinamento intelectual" dos oficiais formados nas escolas. Era dessa forma que  "os cientistas” ou “bacharéis”, oficiais da Escola Militar da Praia Vermelha, instalações que hoje são ocupadas pelo Instituto Militar de Engenharia – IME, no Rio de Janeiro, se referiam pejorativamente ao Marechal Deodoro da Fonseca e outros oficiais de carreira, por não terem estudado em Escolas Militares. Essa divisão está relacionada à politização do Exército e da Marinha após a Guerra do Paraguai e aos desvios das suas atividades fins, caracterizada pelo conflito entre militares envolvidos com o ensino e os que labutavam nos quartéis. Esses oficiais preferiam serem chamados de “doutores” ao invés de alferes, tenentes ou capitães.


A oposição entre oficiais “tarimbeiros” e “bacharéis” aumentou com a reforma de ensino promovida por Benjamin Constant (1890-1891), quando Ministro da Guerra. Essa reforma privilegiou uma formação militar teórica,  que acirrava a oposição entre as duas correntes.
Durante esse período a situação das Forças Armadas era preocupante, pois a estrutura deficiente do “espírito militar”,  precisava ser radicalmente modificada. Havia a necessidade do soerguimento do moral, do espírito militar e da operacionalidade das Forças Armadas, pois as reformas de Benjamin Constant  provocaram  grandes deficiências nas instituições militares da época.

Deodoro da Fonseca

A Guerra Civil (1893-95) no Sul do país, combinando com a Revolta na Armada (1894-1895) e até mesmo  a guerra de Canudos, em 1897 atestaram  as dificuldades que, principalmente, o Exército passava em relação a sua operacionalidade. 

Revolta da Armada


Militares na Campanha de Canudos


Em 1908, houve profunda reorganização do Exército realizada pelo Marechal Hermes da Fonseca com a criação das brigadas estratégicas, construção de quartéis e rearmamento do Exército com a aquisição de fuzis Mauser 1908, metralhadoras Madsen e canhões Krupp com respectivas fábricas de munições e criação da Arma de Engenharia.
Além disso, em 1910, como Presidente da República, o Marechal Hermes enviou um grupo de oficiais para a Alemanha, para um estágio de dois anos naquele País que, à época, era considerado um dos melhores exércitos do mundo. Ao retornarem ao Brasil, passaram a envidar esforços para modernizar e profissionalizar o Exército.

Revista a Defesa Nacional

Em 1913 um grupo desses militares, acrescidos de outros jovens oficiais que compartilhavam dos mesmos ideais, mas que não haviam estagiado no exterior, fundaram a revista A Defesa Nacional, uma revista de assuntos militares. Ela tinha a finalidade de divulgar seus projetos reformistas.

O discurso difundido pelo grupo era de crítica à situação vivenciada pelo Exército à época e de apelo à reorganização da Instituição. Devido à maneira incisiva como se expressavam, esses oficiais receberam a denominação de “Jovens Turcos’, uma alusão pejorativa criada pelos seus opositores e que os comparavam com os jovens oficiais turcos que, a exemplo deles, também haviam estagiado na Alemanha e, ao retornarem à Turquia, participaram das lutas pela modernização e reconstrução daquele país ao lado de Mustafá Kemal, em 1923.
Após a 1ª Guerra Mundial(1914-1918), com a derrota da Alemanha, o Brasil contratou para o Exército e para a futura aviação em processo de criação, a Missão Militar Francesa, que desenvolveu seu trabalho aqui de 1920 até 1939.
Prosseguindo nas mudanças foi criada em 1919 a “Missão Indígena” para a instrução na Escola Militar do Realengo. Segundo o historiador Fernando Rodrigues, o nome da missão talvez esteja ligado à tentativa de se implantar uma missão militar formada genuinamente por instrutores nacionais e com uma cultura militar própria do Brasil, ainda que a base de sustentação ideológica da Missão apontasse para o ensino militar germânico.
Com essas reformas estruturais, o Exército deu um grande salto em sua operacionalidade e profissionalismo, o que possibilitou uma atuação destacada na 2ª Guerra Mundial, ao lado dos melhores exércitos do mundo atestando a importância dos “tarimbeiros”.

Alunos da Escola Militar de Realengo  

Fontes:

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