sábado, 28 de dezembro de 2019

MULHERES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


A comandante Yevdokia Zavaliy foi a única mulher do corpo de fuzileiros navais da Marinha Vermelha. Depois de ver a sua aldeia destruída pela aviação nazista, incorporou-se às forças armadas com 16 anos, declarando que tinha 18. Foi condecorada 40 vezes por bravura, durante a guerra. Os soldados alemães a apelidaram de “Frau Morte Negra” (o uniforme dos fuzileiros era negro).
Olá. Percorrendo o universo virtual encontrei essa matéria sobre a participação das mulheres na Segunda Guerra Mundial. Em 02 Ago 2018 eu postei a sugestão do livro da  jornalista e escritora ucraniana Svetlana Aleksievitch, A guerra não tem rosto de mulher, de 2013. A autora realizou entrevistas com várias veteranas russas que participaram da Segunda Guerra Mundial. Estou compartilhando link com essa matéria que apresenta várias imagens dessas guerreiras de vários países envolvidos no conflito. 

Guerrilheiras soviéticas

Nas Brigadas Internacionais
Guerra Civil Espanhola, 1936

Boa leitura.
Historiador Tarimbeiro








terça-feira, 17 de dezembro de 2019

BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - A GUERRA DE CANUDOS


Flavio de Barros. 400 jagunços prisioneiros, 2 de outubro de 1897. Canudos, Bahia / Acervo Museu da República / Imagem recuperada digitalmente pelo Instituto Moreira Salles

Olá. Estamos recuperando o tempo perdido. E dando prosseguimento nas postagens abordaremos um outro conflito ocorrido no Brasil que teve grande repercussão no País. Foi a Guerra de Canudos, que transcorreu entre novembro de 1896 e  outubro de 1897. A Guerra de Canudos, foi um dos acontecimentos mais emblemáticos do início do período republicano no Brasil. Ela leva esse nome por ter sido travada no Arraial de Canudos, no sertão da Bahia – uma comunidade autônoma então liderada pelo religioso Antônio Conselheiro. O nome Canudos deriva de uma planta local, com haste oca utilizada pelos moradores locais como cachimbo.
Flavio de Barros. Vista panorâmica de Canudos antes do assalto final (imagem formada a partir de duas fotos originais), 1897. Canudos, Bahia / Acervo Museu da República / Imagem recuperada digitalmente pelo Instituto Moreira Salles


Confluência dos Rios Vasa-barris e Umburanas

    Para entender a Guerra de Canudos, é necessário conhecer o fenômeno do messianismo, que teve uma presença forte no Brasil nessa época. Antônio Conselheiro, nome adotado pelo cearense Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897), tornou-se uma figura muito conhecida nos sertões do Ceará, da Bahia e de outros estados da região nordeste do Brasil, principalmente a partir da grande seca de 1877, que assolou a região. Conselheiro era leitor temas com personagens místicos do cristianismo popular europeu e acreditava que a solução para o sofrimento do povo dos sertões estava na fé e na luta pela autonomia. Sua figura passou a representar uma perspectiva de “salvação”, de “redenção” para aquela população miserável, que o via como um profeta dotado de dons “messiânicos”, isto é, que trazia as promessas de um tempo novo, de uma nova era.






   Em poucos anos, uma multidão de seguidores começou a circundar a figura de Conselheiro, o que acabou tornando-se uma organização político-religiosa, paralela à República e à Igreja. O primeiro assentamento dessa organização chamou-se Arraial de Bom Jesus (hoje, Crisópolis, na Bahia), nos anos finais do Império. Ainda nessa época (do Império) começaram as primeiras preocupações com Conselheiro, tanto por parte do Estado quanto por parte da Igreja. Com o advento da República e a instalação do regime federativo, Conselheiro já havia organizado o Arraial de Canudos, também na Bahia, que contava com cerca de 10.000 pessoas.






   Em uma postagem anterior nós já havíamos citado à situação do Exército Brasileiro em relação ao conflito de Canudos. As condições operacionais do Exercito foram fatores primordiais nos combates com os revoltosos. Foram necessárias quatro expedições militares para  destruírem a localidade. A primeira campanha (outubro de 1896) ocorre em função de um boato que chega em Juazeiro que dizia estarem os seguidores de Conselheiro se preparando em Belo Monte para atacar Juazeiro por conta de uma remessa de madeira não entregue. O boato não se concretiza, mas mesmo assim um destacamento polícia de mais de cem soldados seguem para a região sertaneja liderados pelo Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Esse destacamento é surpreendido na madrugada enquanto estavam acampados por seguidores de Antônio Conselheiro liderados por Pajeú e João Abade, grandes companheiros de Conselheiro e responsáveis pela resistência do local. Apesar da ferocidade do ataque e da surpresa do mesmo conta-se através do relatório do Tenente Pires Ferreira que as baixas foram maior do lado da “tropa” de Conselheiro. No entanto, as tropas governistas retrocedem.






     A segunda expedição ocorre em janeiro de 1897 e ter a um efetivo com mais de 200 homens que novamente fracassarão na tentativa de chegar à Belo Monte. Os conselheiristas abastecidos pelas armas retiradas dos soldados na primeira batalha tinham agora mais poder de fogo e impõem grandes danos na tropa do major Febrônio de Brito. As notícias que chegam na Capital são alarmantes, aquilo que se iniciou com uma disputa regional já alcança o tamanho de um perigo nacional, perigo direto à República pois é conhecido o discurso de Antônio Conselheiro contra essa, demonizando e atribuindo o caos e o fim do mundo ao fim da Monarquia.



Retrato póstumo de Antônio Conselheiro




    Para a terceira expedição (março de 1987), o presidente Prudente de Morais envia um coronel já conhecido por sua experiência com revoltas regionalistas. Coronel Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" que impôs grande violência contra os revoltosos da Revolução Federalista (1893 – 1895) no Sul do País segue para o nordeste com a esperança de impor por lá as baixas que obteve na revolta sulista. Com mais 1300 homens a terceira campanha segue sem contar que as forças do lado conselheirista também estavam reforçadas por populares que se unem em defesa do “homem santo”. Em sangrenta batalha na travessia da serra são abatidos centenas de homens do lado governista, inclusive o comandante da expedição Moreira César. O posto é passado ao Coronel Pedro Nunes Baptista Tamarindo que sucumbe no mesmo dia. Devido as baixas a tropa decide por retroceder carregando o peso de mais uma derrota.


   O resultado da derrota da terceira expedição se refletiu no Rio de Janeiro com o fechamento dos jornais monarquistas pelo terror da tentativa de retomada do regime. E em resposta o ministro da guerra Marechal Carlos Machado Bittencourt prepara duas colunas com mais de 4000 homens liderados pelos generais João da Silva Barbosa e Claudio Amaral Savaget.  As duas colunas foram equipadas com as mais modernas armas da época.




    Em junho inicia-se a quarta e última campanha que consegue cercar a região de Belo Monte após inúmeras baixas. No entanto, enquanto do lado conselheirista as tropas estão bem equipadas com as armas deixadas em campo nas batalhas anteriores e dominam a geografia local, do lado governista os homens não recebem o auxílio necessário do Estado, o exército não consegue suprir as tropas que sofrem com a fome. Para tentar organizar as remessas de suprimento o próprio ministro da Guerra Carlos Machado Bittencourt segue para a região de Monte Santo, vizinha a Belo Monte.


      Assim o escritor Euclides da Cunha descreve o fim da Guerra de Canudos (1896-1897). Uma comunidade isolada no sertão baiano foi completamente destruída pela força do Exército Brasileiro enviado pelo então Presidente Prudente de Morais.




     Em setembro após os percalços iniciais as tropas conseguem fechar o cerco sob a população de Belo Monte e a situação começa a virar em favor do Estado. A morte de Antônio Conselheiro, possivelmente por disenteria é definidora para reviravolta e vitória do Exército que promete aos populares de Belo Monte a liberdade ao se entregarem, mas executam todos indiscriminadamente. Homens, mulheres e crianças são executados por degolamento, pena conhecida como “gravata vermelha”.

      O guerra chega ao fim no povoado e  exército contabilizou 5.200 casebres que foram completamente destruídos à fogo pela tropa. O corpo de Antônio Conselheiro é exumado, decapitado e queimado. Ao todo mais de 12 mil soldados de 17 regiões do Brasil participaram desse que pode ser considerado o maior massacre em território nacional com a morte de mais de 10 mil pessoas.

Referências bibliográficas e links:
ALMEIDA, Cícero F. de Almeida. Canudos: imagens da guerra. Os últimos dias da Guerra de Canudos pelo fotógrafo expedicionário Flávio de Barros, Rio de Janeiro, Museu da República/Lacerda, 1997.


BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - O CANGAÇO



Um raro caso de foto espontânea do casal: a imagem de Maria penteando os cabelos de Lampião foi registrada durante a filmagem de um 

documentário sobre o cangaço. Foto Benjamin Abrahão.



Olá. Novamente não consegui manter uma regularidade nas postagens. Muitos assuntos e dicas de livros ficaram na promessa. Então vamos aproveitar as férias na universidade e tentar recuperar o tempo perdido. Estamos postando novamente alguns temas da série "BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS" que foram perdidos e outros que faltaram. Nesta postagem abordaremos o cangaço. Para muitos uma palavra desconhecida, mas que já foi manchete nos jornais do Brasil, particularmente no sertão nordestino. Há muitas controvérsias sobre o cangaço. Para alguns pesquisadores o cangaço estaria diretamente relacionado à disputa da terra, o coronelismo, vingança, revolta à situação de miséria no Nordeste e descaso do poder público. Uma outra corrente considera que foram ações de banditismo, crime e violência que se espalhou por quase todo o sertão do Nordeste brasileiro entre o século 18 e meados do século 20, onde esses grupos logo se transformaram em quadrilhas que aterrorizavam as cidades, realizando roubos, extorquindo dinheiro da população, sequestrando figuras importantes, além de saquear fazendas. 
Cabeças cortadas de membros do bando de Lampião, incluindo o próprio e sua parceira, Maria Bonita, mortos em uma emboscada em Porto da Folha, Sergipe. Elas foram expostas como troféu na escadaria da Prefeitura de Piranhas, no estado de Alagoas, este episódio simbolizou o fim dos tempos áureos do Cangaço. Foto de 1938 (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).

Esse comportamento despertou o respeito e a admiração a vários integrantes do movimento, que eram considerados heróis por parte da população em razão da bravura e audácia.


A figura do cangaceiro era caracterizada, com a vida seminômade, vivendo em bando e vestindo roupas de couro curtido, armado com rifles, facas (peixeiras) e punhais. Esse tipo de sertanejo carregava consigo o material de que necessitava, todos afivelados em seu corpo. Por isso, o nome “cangaço”, atribuído a essa forma de levar pertences e mantimentos.

Maria Bonita, mulher de Lampião, posa para o fotógrafo libanês Benjamin Abrahão junto aos seus dois cães, Guary e Ligeiro, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

  O cangaço avança mesmo a partir do fim do século XIX, quando em grande crise na região do nordeste a população se torna arredia aos líderes, crescem as figuras chamadas de “cangaceiros”.
O primeiro cangaceiro reconhecido como tal foi José Gomes, vulgo Cabeleira, tendo aterrorizado a região do Recife nos anos finais do século XVIII.


Cartaz de recompensa por Virgulino Ferreira da Silva. Créditos: autoria desconhecida.

Mas quem entrou para a história como o maior de todos os cangaceiros foi Virgulino Ferreira da Silva(1897-1938), o Lampião, que começou a atuar em 1920. Lampião, nasceu em Vila Bela, atual cidade de Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, no dia 7 de julho de 1897, em uma família de lavradores e criadores.


O cangaço atraiu Lampião em 1915, depois que sua família foi acusada de ter roubado alguns animais da fazenda de seus vizinhos, uma família importante na região. Perseguidos pela polícia e na fuga, sua mãe e seu pai foram mortos pela polícia. Decidido a se vingar, Lampião encarregou um dos irmãos de cuidar dos irmãos menores e com os dois mais velhos passou a percorrer os estados nordestinos, fazendo justiça com as próprias mãos e daí em diante,  com um bando formado, eles invadiam fazendas e saqueavam comerciantes. Por onde passava, torturava e matava, deixando um rastro de destruição e crueldade, porém eram vistos como um grupo em busca de justiça social, pois segundo alguns pesquisadores o bando de Lampião distribuía parte do roubo para as pessoas mais pobres.

Cangaceiro Barreira posa junto à cabeça de seu ex-companheiro de bando, Atividade, como prova de lealdade à volante. 


No entanto não podemos falar sobre Lampião sem citar Maria Bonita. Em 1929, em suas andanças pela região chegou ao povoado de Malhado da Caiçara quando conheceu Maria Gomes de Oliveira, que tinha 19 anos e morava com os pais, depois que se separou do marido. Logo, Maria entrou para o cangaço e tornou-se a famosa companheira de Lampião, “Maria Bonita”. Ela foi a primeira mulher a ingressar no cangaço.


Enfim, o resto dessa longa história vocês poderão descobrir acessando as referências bibliográficas e nos links abaixo.
Boa pesquisa e proveitosa leitura de um importante momento da História do Brasil.

O Historiador Tarimbeiro

Referências bibliográficas:
ALBUQUERQUE, Ricardo (org). Iconografia do Cangaço. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2012.

ANDRADE, Joaquim Marçal de. Os cangaceiros in Revista de História da Biblioteca Naciona, 6 de abril de 2014.

Pericás, Luiz Bernardo. Os Cangaceiros - Ensaio de Interpretação Histórica;. Editora Boitempo.2010.

Assista a "Há 75 anos, o Brasil assistia ao fim do cangaço - Jornal Futura - Canal Futura" no YouTube
Assista a "lampião rei do cangaço, vídeo reais com efeito de som" no YouTube
Assista a "A Mulher no Cangaço, 1976" no YouTube


terça-feira, 6 de agosto de 2019

O SAMURAI AFRICANO



Olá. Em nossa postagem de hoje faremos uma abordagem tendo como tema o livro A Verdadeira História de Yasuke, um Lendário Guerreiro Negro no Japão Feudal, de Thomas Lockley e Geoffrey Girard.   Publicado(inglês) em abril de 2019, a obra narra a história de um samurai negro no Japão do período feudal. 

  Lockley e Girard produziram um romance histórico, tendo como centro da história  a vida de Yasuke, um escravo africano que ganhou fama e fortuna no Japão do século XVI como guarda-costas.
O livro é uma narrativa da história de um escravo africano transformado em mercenário que se tornou o primeiro samurai nascido no exterior.



Armadura samurai
Os autores abusam da quantidade de sangue que "jorra" das páginas enquanto descrevem abates, decapitações, estupros  e torturas. Além dos ninjas, monges e senhores da guerra, o livro tem como pano de fundo a atuação dos jesuítas e os conflitos internos japoneses do século XVI.
De acordo com François Solier da Companhia de Jesus em 1627, Yasuke veio de Moçambique, mas há controvérsias, já que alguns outros relatos afirmam que ele veio do Congo, Angola ou Etiópia. O fato é que essa discussão ainda está longe do fim. Yasuke foi mencionado em algumas das cartas de 1581 dos jesuítas Luis Frois e Lorenço Mexia e no Relatório Anual de 1582 da Missão Jesuíta no Japão.
A obra aborda temas como política, sexo, religião, guerra e também destaca a violência e os  massacres de famílias africanas onde ocorriam sequestros de meninos por mercadores de escravos árabes, persas e indianos que resultou na escravização de Yasuke. 
Yasuke foi levado por traficantes de escravos, sendo comprado e enviado para a Índia para servir como mão de obra para os portugueses. Crescendo na Índia como um soldado menino, Yasuke foi "treinado em violência, bem como comportamento e serviço", tornando-se um servo  para os jesuítas, que se espalharam pelo Japão, na "missão de salvar almas". 
Ele finalmente chamou a atenção de Alessandro Valignano, um jesuíta italiano em missão na China, Coréia e Japão.
Com mais de um metro e oitenta de altura, forte e musculoso Yasuke era uma presença intimidadora e protetora quando os jesuítas lutavam contra grupos religiosos e políticos em  territórios em conflitos deflagrados. 
Ao chegar no Japão no final de 1500, ele já tinha viajado muito do mundo conhecido, aprendendo vários idiomas. Sua chegada em Kyoto, causou um alvoroço, para ser mais suave. A maioria dos japoneses nunca havia visto um homem africano antes, e muitos deles o viam como a personificação do Buda de pele negra (na tradição local). Entre aqueles que foram atraídos para a sua presença estava Lord Nobunaga, chefe do clã mais poderoso do Japão, que fez de Yasuke um samurai em sua corte.

Lord Nobunaga

  Ao ser incorporado ao séquito de Nobunaga, Yasuke aprendeu as tradições das artes marciais do Japão, se tornando o homem de confiança do "lorde de guerra", e subindo os escalões superiores da sociedade japonesa.
Yasuke tem sido conhecido no Japão  como uma figura lendária. 
Caro leitor/seguidor.
Desculpe se exagerei nessa longa narrativa quase chegando a um  spoiler, mas a história  de Yasuke merece essa atenção. Lembro que se trata de uma biografia da única pessoa de origem não asiática a se tornar um samurai, cujas viagens entre vários países, culturas e classes nos apresenta uma nova perspectiva sobre raça na história do mundo e um retrato da vida no Japão medieval.
O ator Chadwick Boseman (Pantera Negra) iria estrelar um filme baseado na história de Yasuke. Com o seu falecimento em 2020 esse projeto foi paralisado. A Netflix está exibindo o anime 'Yasuke'. Só que a história é narrada 20 anos para frente e foi incluído personagens fantásticos ao roteiro. Abaixo o link para o trailer.




https://www.netflix.com/title/80990863?s=a&trkid=13747225&t=cp



 



  Não há mais tempo a perder. Boa leitura.

O Historiador Tarimbeiro

Referências bibliográficas:









sexta-feira, 26 de julho de 2019

A CAPTURA E O JULGAMENTO DE ADOLF EICHMANN


Adolf Eichmann



Olá. Após uma lacuna nas postagens, estamos retornando, mas ainda com restrições na disponibilidade de tempo para postar dicas de leituras e informações relevantes. A vida acadêmica ocupa muito tempo principalmente com leituras específicas do curso, mas as dicas de leituras continuam. A nossa sugestão de leitura prossegue com  temas do pós-guerra e as consequências da derrocada do 3° Reich. 

Annah Arendt

Com a queda do regime muitos oficiais que participaram das atrocidades cometidas na Alemanha fugiram para outros países e neste sentido o livro
Eichmann em Jerusalém. Um retrato sobre a banalidade do mal, de autoria de  Hannah Arendt, filósofa judia de origem alemã (1906-1975)  traça uma importante narrativa sobre o julgamento do tenente-coronel Obersturmbannführer Adolf Eichmann e as implicações de suas atividades no destino de milhares de pessoas enviadas aos campos de concentração. 

A serviço do jornal de The New Yorker, Hannah  cobriu todo o processo e pôde analisar o perfil de Eichmann que não admitiu a sua responsabilidade no holocausto. Cabia a Eichmann organizar as rotas dos trens que seguiam para os diversos campos de extermínio na Alemanha e em alguns países ocupados pelos nazistas, como Auschwitz, Treblinka, Birkenau etc.


Cabe destacar que Arendt recebeu diversas críticas de setores judaicos, ao lembrar  o fato de que uma pequena parcela dos próprios judeus colaboraram com Eichmann que recebia integrantes dos Conselhos Judaicos  formados em cada região por membros influentes da comunidade. 
Mas ao concluir a leitura do julgamento de Eichmann ainda faltava um aspecto importante a ser estudado. Como o Estado de Israel encontrou Adolf Eichmann e como ele conseguiu fugir da Alemanha? É essa outra narrativa que o livro Caçando Eichmann: como um grupo de sobreviventes do Holocausto capturou o nazista mais notório do mundo, escrito pelo jornalista norte-americano Neal Bascomb em 2009, apresenta a partir de suas investigações sobre o trajeto de Eichmann até chegar na Argentina e a atuação do Mossad, serviço secreto de Israel, para encontrar, capturar e transportar até Israel o oficial nazista que passou a se chamar Ricardo Klement e vivia com a família na Argentina, trabalhando em uma  fábrica da Mercedes-Benz. 

Enfim, para compreender todo o processo que culminou com o julgamento de Eichmann a leitura dessas obras é fundamental.  

Boa leitura.

O Historiador Tarimbeiro  

Referências bibliográficas:
ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

BASCOMB, Neal. Caçando Eichmann: como um grupo de sobreviventes do Holocausto capturou o nazista mais notório do mundo; tradução Maria Beatriz de Medina. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2011.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Soldier Studies. Crossdressing in der Wehrmacht



     Olá. Estamos de volta. Após um período de descanso retomamos as nossas postagens com sugestões de leituras e outras abordagens de importância histórica.


E como primeira sugestão de leitura apresentamos Sammlung Martin Dammann, um artista alemão, colecionador de fotos de guerras, autor do livro Soldier Studies. Crossdressing in der Wehrmacht, 2018, da editora Hatje Cantz, publicado em alemão e inglês.


Dammann é de Berlim. O artista fazia uma pesquisa sobre a vida dos homens que serviam durante o Terceiro Reich quando se deparou com fotografias de militares vestidos com roupas de mulheres. O  livro é resultado de uma longa pesquisa com esse material, onde o tema são fotografias de militares do exército alemão travestidos de mulheres.

      Após vários  anos juntando imagens de fotógrafos amadores, o autor produziu um livro que coloca luz sobre o assunto.

    Dammann começou a pesquisa no Arquivo de Londres sobre Conflitos Modernos e prosseguiu na coleta à procura de fotografias similares nos outros exércitos. A coleção de Dammann também tem fotos  de soldados britânicos e americanos vestidos de mulher.
A partir do material coletado ele observou uma surpreendente  frequência com que os militares aparecem fotografados travestidos de mulheres.
O autor destaca que apesar de ser comum  em todos os exércitos, na Segunda Guerra Mundial, essas imagens eram frequentes nos álbuns de fotografias alemães.


Segundo Dammann, é surpreendente até porque a homossexualidade era um crime na Alemanha nazi, sendo considerada um fator de desmoralização das tropas e punível com pena de morte. Consequentemente qualquer manifestação que demonstrasse um comportamento “inaceitável” poderia terminar mal.
  No entanto, muitas das fotografias pesquisadas estão relacionadas a  festas de carnaval, onde os militares apresentavam um argumento convincente para poderem travestir-se.


  Em algumas ocasiões o uso de roupas femininas manifestava-se em circunstâncias que nada tinham que ver com o carnaval. Por ocasião de espectáculos organizados em unidades da linha frente, onde não havia mulheres, os homens desempenharam papéis femininos. Era comum também quando tropas alemãs tomavam posse de uma aldeia ou cidade  os seus soldados pilhavam os guarda-roupas das mulheres locais.


   Dammann baseado nas imagens e na documentação recolhidas destaca que, "mesmo se a maioria dos soldados era heterossexual, transparecem [nas fotografias] orientações homo ou transsexuais com invulgar nitidez".
       Por fim é um tema polêmico que levanta várias possibilidades.
     Boa leitura.
     O Historiador Tarimbeiro


     Fonte:
     Rede de Televisão de Portugal, 15 Nov 2018.