Rei Pelé |
Em 2012, já com o espírito
voltado para a Copa do Mundo de 2014 elaborei uma resenha do livro O
Negro no Futebol Brasileiro, de autoria do escritor Mario Filho, publicado
em 1947. Esta resenha foi publicada no site Observatório da Imprensa. Para a minha
surpresa, ela foi utilizada na prova de Língua Portuguesa do concurso para
o preenchimento de cargos técnico-administrativos do Instituto Federal de Pernambuco em maio de 2014.
A história do racismo no futebol brasileiro
Por
Julio Ribeiro Xavier em 10/04/2012 na edição 689, Observatório da Imprensa.
Em
tempo de Copa do Mundo, tendo o Brasil como país-sede em 2014, é sempre bom
lembrar a trajetória da nossa “paixão nacional”. E ninguém melhor do que o jornalista
e escritor Mario Filho para abordar o assunto. Mario Filho nasceu em
Pernambuco, viveu no Rio e trabalhou nos jornais A Manhã, A
Crítica e O Globo. Depois dirigiu o Jornal dos
Sports até a sua morte, em 1966. A prática de racismo no futebol não é
uma novidade no Brasil. Mario Filho tratou do assunto em 1947. Com O
Negro no Futebol Brasileiro, livro publicado em 1947, o jornalista abordou
um assunto incômodo para a época: o lento e doloroso ingresso de negros e
mulatos no futebol brasileiro. Afinal de contas, até pouco tempo, nossa
sociedade pregava aqui e no exterior que a nossa democracia racial era um
exemplo para o mundo de convivência harmoniosa entre negros e brancos.
Nos
primórdios, no nosso “esporte nacional”, ainda não era comum jogar banana ou
xingar um jogador negro de “macaco” nos campos de futebol. Naquela época,
futebol era coisa de branco e rico. Introduzido no Brasil pelos ingleses que
aqui chegaram, no futebol não se admitia mulato ou negro nos campos, e nas arquibancadas
eram raridade. Era o Brasil onde o futebol tinha um sentido aristocrático. Era
“coisa de bacana”.
Com
a vitória da equipe brasileira no Campeonato Sul-Americano em 1919, a imprensa
e alguns escritores, como Coelho Neto, passaram a dar grande destaque ao
futebol, que entrou no gosto do povo. Em 1921, o então presidente Epitácio
Pessoa “recomendou” que o Brasil não levasse jogadores negros à Argentina, onde
se realizaria o Sul-Americano daquele ano. Era preciso, segundo ele, projetar
no exterior uma “outra imagem” nossa, composta “pelo melhor de nossa
sociedade”.
Cínico
e hipócrita
Era
a política do Estado brasileiro, em relação à sua população negra, alcançando o
futebol. O primeiro herói mulato do futebol brasileiro foi um atacante de
cabelos crespos, filho de pai alemão e mãe negra. Friedenreich, do Paulistano
(SP), se tornou ídolo em 1919, depois de fazer um gol contra o Uruguai. “O povo
descobria, de repente, que o futebol deveria ser de todas as cores, futebol sem
classe, tudo misturado, bem brasileiro,” escreveu Mario Filho.
O
livro aborda a inovação da equipe de futebol do Clube Vasco da Gama, do Rio de
Janeiro, que era oriundo da Segunda Divisão e que, utilizando um time formado
por brancos, negros e mulatos, conquistou o título da Primeira Divisão do
campeonato carioca enfrentando equipes formadas apenas por brancos. Mas Mario
Filho lembra um comentário de um dirigente vascaíno da época: “Entre um preto e
um branco, os dois jogando a mesma coisa, o Vasco fica com o branco. O preto é
para a necessidade, para ajudar o Vasco a vencer.”
Mario
Filho foi mais além ao lembrar o torneio do Natal entre as equipes de futebol
do Rio de Janeiro e São Paulo. No dia 25 de dezembro de 1916, paulistas e
cariocas disputaram um jogo de seleções em São Paulo. Como muitos brancos se
recusaram a jogar no Natal, os cariocas completaram o time com negros e
mulatos. No campo, uma derrota: 9 a 1. Após o jogo, os cariocas afirmaram que a
seleção não representava o verdadeiro Rio. “A real possuía família e jamais
deixaria seus parentes solitários numa noite de Natal. Só negros e mulatos eram
capazes de agir dessa forma.”
Ao
escrever um livro dedicado a abordar a trajetória dos negros e mulatos no
futebol brasileiro, Mario Filho conhecia bem o campo em que estava pisando. O
campo do racismo cínico e hipócrita que persiste até os dias de hoje e que faz
muitos estragos não só nos gramados, mas em toda a estrutura da nossa
sociedade.
***
https://youtu.be/KbWqm6hbMuA
O
Segue abaixo um link sobre o assunto. Assista ao documentário A ilusão da democracia racial no futebol brasileiro
Segue abaixo um link sobre o assunto. Assista ao documentário A ilusão da democracia racial no futebol brasileiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário