Ainda no Centro do Rio de Janeiro, saindo da Cinelândia
em direção a região da Lapa, você passa pelo Passeio Público. Esse que foi o
primeiro parque público do Rio de Janeiro, e provavelmente do Brasil.
Nesse local,
existiu, até o final do século XVIII, uma lagoa conhecida como Boqueirão da
Ajuda, que recebia os esgotos e lixo da população das proximidades. Com a
consequente proliferação de doenças, o então vice-rei, Dom Luís de Vasconcelos,
resolveu aterrar o local eliminando o foco de contaminação.
Lagoa do Boqueirão |
D. Luis de Vasconcelos, incumbiu os
planos e a execução do parque à Mestre Valentim, tendo a sua obra finalizada em
1783.
Quem foi o Mestre Valentim? Valentim
da Fonseca e Silva, nascido em Serro, Minas Gerais, em 1745, era escultor,
entalhador, arquiteto e urbanista.
Segundo o seu primeiro biógrafo, Manuel de Araújo Porto Alegre, “filho
de um fidalgote português contratador de diamantes e de uma crioula natural do
Brasil", o mulato Valentim da Fonseca e Silva, comumente conhecido como
Mestre Valentim, destaca-se como um dos artistas mais originais em atuação no Rio
de Janeiro entre o último quartel do século XVIII e o início do XIX. É o
principal construtor de obras públicas da cidade do Rio de Janeiro nas
áreas de saneamento, abastecimento e embelezamento urbano.
. Mestre Valentim
Antes que eu me esqueça, o chafariz da praça
XV de Novembro, ou o Chafariz da Pirâmide, que nós citamos na postagem anterior,
e onde fica o Paço, também é obra do Mestre Valentim.
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Construído em 1789, o Chafariz da
Pirâmide tinha a função de abastecer com água as embarcações que ancoravam
próximas ao cais da Praça XV. Quando o Chafariz foi construído o mar
chegava até ele. Com o decorrer dos anos, aterros sucessivos foram feitos,
distanciando o mar cada vez mais do chafariz.
Pintura com o chafariz ao fundo |
Inspirado no Passeio Público de Lisboa e nos jardins do Palácio Real de
Queluz, o Passeio Público do Rio de Janeiro foi o grande ponto de encontro da
população carioca nos séculos XVIII e XIX.
O maior destaque artístico do Passeio
é sem dúvida o Chafariz dos Jacarés. Localizada na extremidade do jardim, a
fonte é composta por um largo tanque de cantaria e por peças em bronze,
fundidas por Mestre Valentim.
Chafariz dos Jacarés |
Outro destaque do Passeio é seu portão
de ferro, instalado na entrada do parque. A peça, em estilo rococó, foi produzida
também por Mestre Valentim. Um medalhão de bronze dourado traz, no lado
interno, as armas da cidade, e, no externo, as efígies da rainha Dona Maria I e
de seu marido, Dom Pedro.
Medalhão de bronze da entrada principal |
Aos
domingos o Passeio Público recebe uma “feirinha” de troca-troca, venda de cartões
postais antigos, selos e outras “quinquilharias históricas”.
De lá você segue para a Lapa. É impossível passar pela Lapa e não notar os
Arcos da Lapa. Esse cartão postal já está na memória na maioria dos cariocas e
de muitos estrangeiros. Mas, nem sempre essa construção foi um ponto turístico
e símbolo da boêmia.
O Aqueduto da Carioca, como era
conhecido antigamente, é considerado a obra arquitetônica de maior importância
do Rio Antigo. Construído para funcionar como
aqueduto nos tempos do Brasil Colonial, agora serve como via para os
bondinhos que sobem o morro onde fica o bairro de Santa Teresa.
Essa construção em estilo romano hoje tem
a finalidade de ligar o bairro de Santa Teresa ao Centro do Rio. O Aqueduto da
Carioca foi construído em 1723, no período do Brasil Colonial, e tinha como
objetivo conduzir a água do rio Carioca da altura do Morro do Desterro, atual
bairro de Santa Teresa, para o Morro de Santo Antônio, que após o seu desmonte,
na década de 50, ficou preservada a área
onde se ergue o Convento de Santo Antônio e a vizinha Igreja da Ordem Terceira
de São Francisco, ambas com raras obras
da arte colonial carioca. O convento está de frente para o Largo da Carioca.
O Largo da Carioca é uma das áreas
mais movimentadas do centro do Rio, possuindo uma estação de Metro e muito
comércio ao redor. Situa-se entre várias das principais vias do centro da
cidade, e continua como um coração pulsante de tráfego de pedestres.
O Largo da Carioca foi um dos mais
importantes locais da cidade nos tempos coloniais e também durante os tempos
dos Reinados. No início da colonização o local era ocupado por uma lagoa que
foi aterrada, para dar lugar àquele espaço.
Largo da Carioca com o Convento de Santo Antonio ao fundo |
No local havia um chafariz, que
provinha água ao moradores, água esta que vinha conduzido através do Aqueduto
da Carioca ou Arcos da Lapa, o que nós dá uma idéia de como as histórias desses
locais do Rio estão interligadas.
Vista do Largo da Carioca |
Assim como Machado de Assis, Carmem Miranda, Manuel
Bandeira, Jorge Amado, Péricles Maranhão, Lamartine Babo, Orestes Barbosa,
Villa-Lobos, muitas personalidades de
destaque residiram na Lapa.
Largo da Lapa |
Nos últimos tempos a região da Lapa passou por
inúmeras modificações. Onde era o Largo dos Pracinhas (uma praça anexa aos
arcos) hoje existe o Circo Voador, que um point cultural. A rua dos Arcos, que atravessa o
aqueduto, era um via ocupada por edificações centenárias, entre elas a Fundição
Progresso, que hoje é uma casa de shows.
O bodinho que liga o bairro de Santa Teresa ao Centro do Rio |
Outrora famosa por inspirar tipos como
Madame Satã, e os malandros cariocas que tanto habitaram as páginas
literárias dos nossos autores, a Lapa é hoje ponto de referência para os amantes da vida noturna.
Bar da Quengas, na Lapa |
Uma das características marcantes do bairro é
a harmonia com que convivem as mais diversas tribos musicais. Desde os anos
1950, quando começou a ser chamada de "Montmartre Carioca", a Lapa é
palco de encontro intelectuais, artistas, políticos e, principalmente, do povo
carioca, que ali se reúne para celebrar o samba, o forró, a MPB, o choro e mais
recentemente, a música eletrônica e o rock.
A noite é agitada nos bares da Lapa |
Por suas principais vias, rua Mem de
Sá, rua do Riachuelo (antiga Rua Matacavalos, frequentemente mencionada na obra
de Machado de Assis), avenida Chile, rua Gomes Freire e rua do Lavradio,
espalham-se atrações como a Sala Cecília Meireles, que é considerada a melhor
casa para concertos de música de câmara existente no Rio. O nosso “amaldiçoado”
romancista e jornalista, Lima Barreto vivia perambulando pelas ruas da Lapa.
Percebeu que esse tour foi mais longo. Agora, se divirta nos bares da Lapa e aguarde
novas postagens, pois ainda tem muita coisa "além da zona sul do Rio".
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