sábado, 7 de novembro de 2015

RIO DE JANEIRO: MUITO MAIS DO QUE UMA CIDADE OLÍMPICA – PARTE IV - CONHECENDO O PASSEIO PÚBLICO, O LARGO DA CARIOCA E A LAPA




 
O chafariz da praça XV - Pintura de Debret



       Ainda no Centro do Rio de Janeiro, saindo da Cinelândia em direção a região da Lapa, você passa pelo Passeio Público. Esse que foi o primeiro parque público do Rio de Janeiro, e provavelmente do Brasil.
Nesse local, existiu, até o final do século XVIII, uma lagoa conhecida como Boqueirão da Ajuda, que recebia os esgotos e lixo da população das proximidades. Com a consequente proliferação de doenças, o então vice-rei, Dom Luís de Vasconcelos, resolveu aterrar o local eliminando o foco de contaminação.

Lagoa do Boqueirão

    D. Luis de Vasconcelos, incumbiu os planos e a execução do parque à Mestre Valentim, tendo a sua obra finalizada em 1783.
    Quem foi o Mestre Valentim? Valentim da Fonseca e Silva, nascido em Serro, Minas Gerais, em 1745, era escultor, entalhador, arquiteto e urbanista.

    Segundo o seu primeiro biógrafo, Manuel de Araújo Porto Alegre, “filho de um fidalgote português contratador de diamantes e de uma crioula natural do Brasil", o mulato Valentim da Fonseca e Silva, comumente conhecido como Mestre Valentim, destaca-se como um dos artistas mais originais em atuação no Rio de Janeiro entre o último quartel do século XVIII e o início do XIX. É o principal construtor de obras públicas da cidade do Rio de Janeiro nas áreas de saneamento, abastecimento e embelezamento urbano.

 
Mestre Valentim





     Antes que eu me esqueça, o chafariz da praça XV de Novembro, ou o Chafariz da Pirâmide, que nós citamos na postagem anterior, e onde fica o Paço, também é obra do Mestre Valentim.
   
     
 
Chafariz da praça XV

    Construído em 1789, o Chafariz da Pirâmide tinha a função de abastecer com água as embarcações que ancoravam próximas ao cais da Praça XV. Quando o Chafariz foi construído o mar chegava até ele. Com o decorrer dos anos, aterros sucessivos foram feitos, distanciando o mar cada vez mais do chafariz. 
Pintura com o chafariz ao fundo
      
    Inspirado no Passeio Público de Lisboa e nos jardins do Palácio Real de Queluz, o Passeio Público do Rio de Janeiro foi o grande ponto de encontro da população carioca nos séculos XVIII e XIX.



     O maior destaque artístico do Passeio é sem dúvida o Chafariz dos Jacarés. Localizada na extremidade do jardim, a fonte é composta por um largo tanque de cantaria e por peças em bronze, fundidas por Mestre Valentim.

Chafariz dos Jacarés


     Outro destaque do Passeio é seu portão de ferro, instalado na entrada do parque. A peça, em estilo rococó, foi produzida também por Mestre Valentim. Um medalhão de bronze dourado traz, no lado interno, as armas da cidade, e, no externo, as efígies da rainha Dona Maria I e de seu marido, Dom Pedro.

Medalhão de bronze da entrada principal

       Aos domingos o Passeio Público recebe uma “feirinha” de troca-troca, venda de cartões postais antigos, selos e outras “quinquilharias históricas”.  
 
Detalhe da entrada do Passeio Público

     De lá você segue para a Lapa. É  impossível passar pela Lapa e não notar os Arcos da Lapa. Esse cartão postal já está na memória na maioria dos cariocas e de muitos estrangeiros. Mas, nem sempre essa construção foi um ponto turístico e símbolo da boêmia. 



    O Aqueduto da Carioca, como era conhecido antigamente, é considerado a obra arquitetônica de maior importância do Rio Antigo. Construído para funcionar como aqueduto nos tempos do Brasil Colonial,  agora serve como via para os bondinhos que sobem o morro onde fica o bairro de Santa Teresa.




     Essa construção em estilo romano hoje tem a finalidade de ligar o bairro de Santa Teresa ao Centro do Rio. O Aqueduto da Carioca foi construído em 1723, no período do Brasil Colonial, e tinha como objetivo conduzir a água do rio Carioca da altura do Morro do Desterro, atual bairro de Santa Teresa, para o Morro de Santo Antônio, que após o seu desmonte, na década de 50,  ficou preservada a área onde se ergue o Convento de Santo Antônio e a vizinha Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, ambas com  raras obras da arte colonial carioca. O convento está de frente para o Largo da Carioca.  



     O Largo da Carioca é uma das áreas mais movimentadas do centro do Rio, possuindo uma estação de Metro e muito comércio ao redor. Situa-se entre várias das principais vias do centro da cidade, e continua como um coração pulsante de tráfego de pedestres.


     O Largo da Carioca foi um dos mais importantes locais da cidade nos tempos coloniais e também durante os tempos dos Reinados. No início da colonização o local era ocupado por uma lagoa que foi aterrada, para dar lugar àquele espaço.

Largo da Carioca com o Convento de Santo Antonio ao fundo

     No local havia um chafariz, que provinha água ao moradores, água esta que vinha conduzido através do Aqueduto da Carioca ou Arcos da Lapa, o que nós dá uma idéia de como as histórias desses locais do Rio estão interligadas.

Vista do Largo da Carioca


     Assim como Machado de Assis, Carmem Miranda, Manuel Bandeira, Jorge Amado, Péricles Maranhão, Lamartine Babo, Orestes Barbosa, Villa-Lobos,  muitas personalidades de destaque residiram na Lapa.  

Largo da Lapa
 

     Nos últimos tempos a região da Lapa passou por inúmeras modificações. Onde era o Largo dos Pracinhas (uma praça anexa aos arcos) hoje existe o Circo Voador, que um point cultural. A rua dos Arcos, que atravessa o aqueduto, era um via ocupada por edificações centenárias, entre elas a Fundição Progresso, que hoje é uma casa de shows. 

O bodinho que liga o bairro de Santa Teresa ao Centro do Rio


       Outrora famosa por inspirar tipos como Madame Satã, e  os malandros cariocas que tanto habitaram as páginas literárias dos nossos autores, a Lapa é hoje ponto de referência  para os amantes da vida noturna.

Bar da Quengas, na Lapa


        Uma das características marcantes do bairro é a harmonia com que convivem as mais diversas tribos musicais. Desde os anos 1950, quando começou a ser chamada de "Montmartre Carioca", a Lapa é palco de encontro intelectuais, artistas, políticos e, principalmente, do povo carioca, que ali se reúne para celebrar o samba, o forró, a MPB, o choro e mais recentemente, a música eletrônica e o rock.

A noite é agitada nos bares da Lapa
 
     Por suas principais vias, rua Mem de Sá, rua do Riachuelo (antiga Rua Matacavalos, frequentemente mencionada na obra de Machado de Assis), avenida Chile, rua Gomes Freire e rua do Lavradio, espalham-se atrações como a Sala Cecília Meireles, que é considerada a melhor casa para concertos de música de câmara existente no Rio. O nosso “amaldiçoado” romancista e jornalista, Lima Barreto vivia perambulando pelas ruas da Lapa.
 
Encontro de diversas "tribos" nos Arcos da Lapa
     Percebeu que esse tour foi mais longo. Agora, se divirta nos bares da Lapa e aguarde novas postagens, pois ainda tem muita coisa "além da zona sul do Rio".

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