Lima Barreto |
Em 1º
de novembro de 1922 morria no bairro de Todos os Santos, subúrbio do Rio de
Janeiro, o escritor e jornalista Afonso Henriques de Lima Barreto, autor
de "O Triste Fim de Policarpo
Quaresma."
Lima
Barreto nasceu em 13 de maio de 1881, numa sexta-feira, no bairro de
Laranjeiras, Rio de Janeiro. Filho de João Henriques de Lima Barreto, tipógrafo
da Imprensa Nacional, e de Amália Augusta Barreto, professora primária de um
colégio que também funcionava na Rua Ipiranga.
Missa em comemoração a Abolição da Escravidão no Brasil |
O escritor foi batizado em 13 de
outubro de 1881, na Igreja de Nossa Senhora da Glória, e teve como padrinho
Afonso Celso, o Visconde de Ouro Preto, uma ilustre figura da época. Sua mãe
morreu quando ele tinha apenas seis anos de idade. Ele participa, com o pai, da
missa campal pela celebração da Abolição da Escravatura. Lima guardou uma
memória familiar dramática do golpe do 15 de novembro de 1889, especialmente do governo de Floriano Peixoto.
Princesa Isabel |
Em
1909, publicou seu primeiro romance, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, onde fez duras
críticas a imprensa e aos jornalistas, mais especificamente ao jornal do Correio da Manhã,
que no romance recebe o nome de O Globo. Lima tornou-se mal visto por todos os
grandes jornais do Rio. No livro, o escritor também expôs o preconceito racial que imperava na
sociedade brasileira da época.
O romancista
passou maus momentos em sua vida. Há varias passagens em seu “Diário
íntimo” em que deixa claro sua tristeza em relação a acontecimentos de sua
vida, como ocorre, por exemplo, quando, em determinado momento, lembra de uma
passagem de seu passado em que recebeu um convite para assistir à bordo à
partida de navios estrangeiros no porto do Rio de Janeiro e sentiu-se
contrariado, não concluindo seu intento:
“Fui
a bordo ver a esquadra partir. Multidão. Contato pleno com moças
aristocráticas. Na prancha, ao embarcar, a ninguém pediam convite; mas a mim
pediram. Aborreci-me. Encontrei Juca Floresta. Fiquei tomando cerveja na barca
e saltei. É triste não ser branco.”
Lima Barreto, como em inúmeros outros textos
de cunho biográfico, deixa claro sua insatisfação com a maneira como os negros
(ou mulatos) eram tratados pela sociedade. Em algumas de suas crônicas também
se pode perceber como suas opiniões expressas nas revistas e jornais são
sinceras e funcionam como denúncia.
Lima Barreto |
Da
sua revolta, nasceu uma literatura voltada para os personagens do subúrbio. Sua
combatividade, camuflava um ser melancólico que encontrou no álcool seu
refúgio, que foi tirando sua vida aos poucos. Lima passou a beber cada vez mais
nos botequins. Por vezes, depois de várias doses de cachaça, ele era encontrado
por amigos dormindo na sarjeta. Chegou a ficar dois meses internado em um
hospício quando perdeu o controle de seu vício. Lima morreu jovem, com apenas
41 anos, mas deixou um grande legado literário, entre contos, crônicas, ensaios
e memórias. Mas cabe ressaltar que as
suas obras somente tiveram o merecido reconhecimento depois de sua morte.
Francisco de Assis Barbosa (1988)
autor da sua biografia A Vida de Lima
Barreto e também um dos organizadores das obras completas de Lima Barreto
na década dos anos de 1950, partilha da mesma visão de muitos críticos de que
Lima Barreto era um ressentido e complexado por sua cor.
“A
verdade é que preconceito de cor sempre existiu e ainda existe no Brasil, em
maior ou menor escala. O que acontece é que há os que vencem e se acomodam,
como há também os que se deixam marcar com cicatrizes mais profundas, quando
não sucumbem às restrições e reservas que se lhes impõem. Questão de
temperamento. O caso de Lima Barreto é típico, e bem merece um estudo mais
profundo, o que somente um especialista poderia fazer.”
Em vários momentos da obra,
Barbosa utiliza o termo “complexo de
cor”, ao se referir as manifestações de Barreto
sobre racismo no Brasil. Fica a dúvida sobre qual é o entendimento de
Barbosa sobre vencer e se acomodar aos preconceitos? Ao que tudo indica seria o
de se integrar na lógica do embranquecimento. No senso comum se produziu a
idéia de que quem luta contra o preconceito e a discriminação no Brasil é um
complexado, ou seja, o bom negro ou mulato é aquele que sabe onde é o seu lugar
social, “sofre calado” e “não cria problema”. Ou o melhor, não fala sobre
racismo.
Lima Barreto tinha consciência do
racismo que o atingia profundamente, mas seu biógrafo nos oferece um
alternativa simplista que em linhas gerais
ameniza o racismo no Brasil e culpa a vítima. Uma visão que
“insistentemente” permanece no imaginário da sociedade brasileira.
Por
que conhecer e ler as obras de Lima Barreto? porque não somos um país
complemente livre. porque somos um país socialmente injusto, porque somos um
país onde os pobres continuam pobres e as elites lutam com todas as forças
para impedir que seu status quo seja abalado. Não é para
conhecer e aprender português que se ler Lima Barreto. Com Lima Barreto se
aprende a conhecer o Brasil.
Para saber mais sobre Lima Barreto acesse ao link abaixo:
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