quarta-feira, 5 de outubro de 2016

BRASIL: IMAGENS DE GUERRAS E REVOLTAS - A Revolta da Vacina





No início do século XX, era precária a situação no Rio de Janeiro. A população sofria com a falta de um sistema eficiente de saneamento básico. Esta situação possibilitava o aparecimento  de constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. A população de baixa renda, que moravam em habitações precárias, era a principal vítima desta conjuntura. No centro do Rio de janeiro – a Cidade Velha e adjacências – eclodiam habitações coletivas insalubres (cortiços), epidemias de febre amarela, varíola e cólera, conferindo à cidade a fama internacional de porto sujo ou “cidade da morte”, como se tornara conhecida.

Osvaldo Cruz


Na segunda metade do século XIX, o governo imperial tinha iniciado um processo de modernização dos serviços públicos da capital, com iluminação a gás, introdução das linhas de bonde de tração animal rede de esgoto e coleta de lixo, e as experiência com a energia elétrica  vinham se intensificando abrindo assim novas perspectivas.   
Com a queda da monarquia, e a chegada ao poder do regime republicano, iniciou-se um processo de o incentivo a industrialização. As novas fábricas ficam localizadas nos arredores, porém haviam unidades que estavam localizada no centro urbano, além de pequenas oficinas.
Esses problemas, advindos do crescimento rápido e desordenado, com o declínio do trabalho escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de ex-escravos, atraídos pelas oportunidades que ali se abriam ao trabalho assalariado. Entre 1872 e 1890, sua população duplicou, passando de 274 mil para 522 mil habitantes.  
O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças como febre amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros não atracavam no porto carioca, e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às dezenas de doenças infecto contagiosas. A República necessitava de um símbolo que lhe desse visibilidade permitindo ao país entrar na modernidade. Para resolver esses problemas, ao assumir a presidência da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves instituiu como meta governamental o saneamento e reurbanização da capital da República. Teve então o inicio a reforma urbana, período conhecido popularmente como “Bota abaixo”, visando o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao Rio de janeiro ares de cidade moderna e cosmopolita.





Para assumir a frente das reformas nomeou-se Francisco Pereira Passos para o governo municipal. Este por sua vez chamou os engenheiros Francisco Bicalho para a reforma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no Centro. Rodrigues Alves nomeou ainda o médico Oswaldo Cruz para o saneamento.
O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de casarões e cortiços e o conseqüente despejo de seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares.




Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz. Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela. Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamente, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. Oswaldo Cruz encaminha ao Congresso Nacional, em 31 de outubro, uma proposta de lei sobre a obrigatoriedade da vacinação, a chamada Lei da Vacina Obrigatória.  A sugestão foi transformada em um projeto legislativo, que gerou insatisfação de diversos setores da população.  
A população não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo.
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse.





No dia 10 de novembro de 1904, um orador foi preso no alto do palanque enquanto discursava contra a vacina e sua obrigatoriedade.  Durante uma semana, a população enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido com violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de  1904, a recém reconstruída cidade do Rio de Janeiro numa praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados. paus e pedras dos casarões demolidos serviram de armas para a população, que temerosa em ser vitima de um extermínio em massa, lutavam por suas vidas, influenciada pelos principais meios de comunicação da época. 
No dia 14 de novembro a Escola Militar da Praia Vermelha decidiu unir-se ao povo e aderir ao levante. A vacina era apenas um pretexto para a eclosão de uma Rebelião, pois a inflação, o achatamento salarial, o aumento abusivo dos aluguéis, e o projeto excludente e elitista da remodelação do centro da Capital, para os cadetes com ideais  positivistas, não se tratava apenas de uma traição aos ideais do golpe republicano de 1889, tratava-se também da ocasião perfeita para derrubar os cafeicultores paulistas que haviam assumido o controle da nação a partir de 1894.  Após declarar que somente morto sairia do palácio, Rodrigues Alves conseguiu tropas leais ao governo, decretando a repressão à revolta.
Do lado popular, vários foram os que se levantaram contra as medidas autoritárias,  um dos líderes do movimento foi Horácio José da Silva, mais conhecido como Prata Preta, que era um capoeirista e estivador, morador da cidade do Rio de Janeiro. É considerado por muitos um símbolo da luta contra o governo durante a Revolta da Vacina, em 1904 Liderou mais de 2 mil pessoas na barricada de Porto Arthur contra o exército, constando que chegou a matar um soldado durante um dos ataques.Foi preso e deportado para o Acre.
No dia seguinte, Rodrigues Alves solicitou, e o congresso aprovou o Estado de sítio, válido por um mês. Aproveitando-se das prerrogativas do regime de exceção, a polícia e as tropas invadiram cortiços e favelas, prendendo não apenas quem participara do motim, mas desempregados e desvalidos em geral. A revolta deixou um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, dos quais 461 são deportados para o Acre e a vacinação prosseguiu.     
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