No início do século XX, era precária a situação no Rio de Janeiro. A
população sofria com a falta de um sistema eficiente de saneamento básico. Esta
situação possibilitava o aparecimento de
constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola.
A população de baixa renda, que moravam em habitações precárias, era a
principal vítima desta conjuntura. No centro do Rio de janeiro – a Cidade Velha
e adjacências – eclodiam habitações coletivas insalubres (cortiços), epidemias
de febre amarela, varíola e cólera, conferindo à cidade a fama internacional de
porto sujo ou “cidade da morte”, como se tornara conhecida.
Osvaldo Cruz |
Na segunda metade do século XIX, o governo imperial tinha iniciado um
processo de modernização dos serviços públicos da capital, com iluminação a
gás, introdução das linhas de bonde de tração animal rede de esgoto e coleta de
lixo, e as experiência com a energia elétrica vinham se intensificando
abrindo assim novas perspectivas.
Com a queda da monarquia, e a chegada ao poder do regime republicano, iniciou-se
um processo de o incentivo a industrialização. As novas fábricas ficam
localizadas nos arredores, porém haviam unidades que estavam localizada no
centro urbano, além de pequenas oficinas.
Esses problemas, advindos do crescimento rápido e desordenado, com o
declínio do trabalho escravo,
a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de
ex-escravos, atraídos pelas oportunidades que ali se abriam ao trabalho assalariado. Entre 1872 e 1890, sua população duplicou,
passando de 274 mil para 522 mil habitantes.
O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda
uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças
como febre amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros não
atracavam no porto carioca, e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às
dezenas de doenças infecto contagiosas. A República necessitava de um símbolo
que lhe desse visibilidade permitindo ao país entrar na modernidade. Para
resolver esses problemas, ao assumir a presidência da República, Francisco de
Paula Rodrigues Alves instituiu como meta governamental o saneamento e
reurbanização da capital da República. Teve então o inicio a reforma urbana,
período conhecido popularmente como “Bota abaixo”, visando o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao Rio de janeiro ares de cidade moderna e
cosmopolita.
Para assumir a frente das reformas nomeou-se Francisco Pereira Passos
para o governo municipal. Este por sua vez chamou os engenheiros Francisco
Bicalho para a reforma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no Centro.
Rodrigues Alves nomeou ainda o médico Oswaldo Cruz para o saneamento.
O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de
casarões e cortiços e o conseqüente despejo de seus moradores. A população
apelidou o movimento de o “bota abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes
bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares.
Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz.
Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade
espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o
alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela. Finalmente, restava o
combate à varíola. Autoritariamente, foi instituída a lei de vacinação
obrigatória. Oswaldo Cruz encaminha ao Congresso Nacional, em 31 de
outubro, uma proposta de lei sobre a obrigatoriedade da vacinação, a
chamada Lei da Vacina Obrigatória. A sugestão foi transformada em um projeto legislativo, que gerou
insatisfação de diversos setores da população.
A população não acreditava na
eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do
corpo a agentes sanitários do governo.
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente
insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse.
No dia 10 de novembro de 1904, um orador foi preso no alto do palanque
enquanto discursava contra a vacina e sua obrigatoriedade. Durante uma
semana, a população enfrentou as forças da polícia e do exército até ser
reprimido com violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de
novembro de 1904, a recém reconstruída cidade do Rio de Janeiro numa praça de
guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados.
paus e pedras dos casarões demolidos serviram de armas para a população, que
temerosa em ser vitima de um extermínio em massa, lutavam por suas vidas,
influenciada pelos principais meios de comunicação da época.
No dia 14 de novembro a Escola Militar da Praia Vermelha decidiu unir-se
ao povo e aderir ao levante. A vacina era apenas um pretexto para a eclosão de
uma Rebelião, pois a inflação, o achatamento salarial, o aumento abusivo dos
aluguéis, e o projeto excludente e elitista da remodelação do centro da
Capital, para os cadetes com ideais positivistas, não se tratava apenas
de uma traição aos ideais do golpe republicano de 1889, tratava-se também da
ocasião perfeita para derrubar os cafeicultores paulistas que haviam assumido o
controle da nação a partir de 1894. Após
declarar que somente morto sairia do palácio, Rodrigues Alves conseguiu tropas
leais ao governo, decretando a repressão à revolta.
Do lado popular, vários foram os que se levantaram contra as medidas
autoritárias, um dos líderes do
movimento foi Horácio José da Silva, mais conhecido como Prata Preta, que era
um capoeirista e estivador, morador da cidade do Rio de Janeiro. É considerado por
muitos um símbolo da luta contra o governo durante a Revolta da Vacina, em 1904 Liderou mais de 2 mil pessoas na barricada de Porto Arthur contra o
exército, constando que chegou a matar um soldado durante um dos ataques.Foi
preso e deportado para o Acre.
No dia seguinte, Rodrigues Alves solicitou, e o congresso aprovou o
Estado de sítio, válido por um mês. Aproveitando-se das prerrogativas do regime
de exceção, a polícia e as tropas invadiram cortiços e favelas, prendendo não
apenas quem participara do motim, mas desempregados e desvalidos em geral. A revolta deixou um saldo
de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, dos quais 461 são deportados para o
Acre e a vacinação prosseguiu.
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