Carolina Maria de Jesus |
Com pouco tempo para fazer postagens,
aproveitei para compartilhar minhas leituras. Na tarde de ontem terminei de ler o
livro Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina Maria de Jesus. O livro é um texto
escrito em forma de diário, uma espécie de autobiografia. Carolina Maria de
Jesus era moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Sua narrativa
aborda suas dificuldades e alegrias. Seu livro é mais do que isso. Entre descrições comuns do cotidiano, como acordar,
buscar água, fazer o café, encontramos narrativas fortes que desvendavam a vida
de uma mulher negra da periferia.
Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ia catar coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço de carne estragada, comeu e morreu.
Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ia catar coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço de carne estragada, comeu e morreu.
Carolina Maria de Jesus apresentou um produto do seu trabalho intelectual à sociedade por meio
da publicação de uma obra que rompe
drasticamente com o silenciamento a que é conduzida pela cultura hegemônica do
nosso país.
É uma mulher negra de classe baixa e pouca
instrução formal, que escreve como pode, tanto em termos de linguagem, conforme
se percebe, como de material. Seus cadernos de anotações são todos oriundos do
lixo. Alguns já foram utilizados. Carolina ocupa os espaços ainda em branco, e os
recicla como único recurso possível de sua expressão escrita.
Michel de Certeau, em seus estudos sobre as
práticas culturais dos marginalizados, detalha as formas de resistências dos
dominados como a “tática” e a “estratégia, que na linguagem da guerra é ação
que depende da conjuntura, dos elementos que se tem à disposição em determinado
momento. Para De Certeau, a arte do fraco,
dos sujeitos fora dos centros de poder, é sempre próxima da tática, que é
associada ao processo de bricolagem, no qual se recorre às sobras na construção
de produtos culturais os mais variados.
Carolina foi descoberta por acaso pelo jornalista Audálio Dantas que ao visitar a favela do Canindé, situada às margens do rio
Tietê, em São Paulo, deparou-se com uma moradora que xingava alguns homens que
se haviam apropriado dos brinquedos que a prefeitura ali instalara, ameaçando
denunciá-los em seu livro.
Foi assim que o jornalista conheceu os trinta e
cinco cadernos, escritos depois de achados no lixo, com testemunhos sobre o cotidiano da favela. E
foi por seu intermédio que os mesmos tornaram-se um livro. Quarto de despejo teve três edições e em
seguida traduzido para treze línguas e circulou em quarenta países, com um total de 100 mil exemplares vendidos. Carolina Maria de Jesus
passou a ser assunto constante de jornais e revistas nacionais e
internacionais, com amplas reportagens na Life, Paris Match, Época,
Réalité e Time.
Carolina Maria de Jesus, Audálio Dantas e
Ruth de Souza na Favela do Canindé
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Prefiro
que descubram o resto da vida de Carolina lendo o livro. Eu só posso afirmar que foi uma leitura que
valeu a pena e que eu recomendo.
Em 1971 a TV alemã produzou um documentário sobre Carolina de Jesus. Segue o link para assistir.
https://youtu.be/Gn62_WkRh2Q
Segue um link para acessar ao poema produzido em homenagem a Carolina:
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