terça-feira, 17 de maio de 2016

QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA

Carolina Maria de Jesus
Com pouco tempo para fazer postagens, aproveitei para compartilhar minhas  leituras. Na tarde de ontem terminei de ler o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina Maria de Jesus. O livro é um texto escrito em forma de diário, uma espécie de autobiografia. Carolina Maria de Jesus era moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Sua narrativa aborda suas dificuldades e alegrias. Seu livro é mais do que isso. Entre descrições comuns do cotidiano, como acordar, buscar água, fazer o café, encontramos narrativas fortes que desvendavam a vida de uma mulher negra da periferia.
Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ia catar coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço de carne estragada, comeu e morreu.



Carolina Maria de Jesus  apresentou  um produto do seu trabalho intelectual à sociedade por meio da publicação de uma obra que rompe drasticamente com o silenciamento a que é conduzida pela cultura hegemônica do nosso país.
É uma mulher negra de classe baixa e pouca instrução formal, que escreve como pode, tanto em termos de linguagem, conforme se percebe, como de material. Seus cadernos de anotações são todos oriundos do lixo. Alguns já foram utilizados.  Carolina ocupa os espaços ainda em branco, e os recicla como único recurso possível de sua expressão escrita.




Michel de Certeau, em seus estudos sobre as práticas culturais dos marginalizados, detalha as formas de resistências dos dominados como a “tática” e a “estratégia, que na linguagem da guerra é ação que depende da conjuntura, dos elementos que se tem à disposição em determinado momento. Para  De Certeau, a arte do fraco, dos sujeitos fora dos centros de poder, é sempre próxima da tática, que é associada ao processo de bricolagem, no qual se recorre às sobras na construção de produtos culturais os mais variados.




Carolina foi descoberta por acaso pelo jornalista Audálio Dantas que ao visitar a favela do Canindé, situada às margens do rio Tietê, em São Paulo, deparou-se com uma moradora que xingava alguns homens que se haviam apropriado dos brinquedos que a prefeitura ali instalara, ameaçando denunciá-los em seu livro. 



Carolina Maria de Jesus, Audálio Dantas e Ruth de Souza na Favela do Canindé
Foi assim que o jornalista conheceu os trinta e cinco cadernos, escritos depois de achados no lixo,  com testemunhos sobre o cotidiano da favela. E foi por seu intermédio que os mesmos tornaram-se um livro. Quarto de despejo teve três edições e em seguida traduzido para treze línguas e circulou em quarenta países, com um total de 100 mil exemplares vendidos. Carolina Maria de Jesus passou a ser assunto constante de jornais e revistas nacionais e internacionais, com amplas reportagens na Life, Paris Match, Época, Réalité e Time.
Prefiro que descubram o resto da vida de Carolina lendo o livro.  Eu só posso afirmar que foi uma leitura que valeu a pena e que eu recomendo.



  Em 1971 a TV alemã produzou um documentário sobre Carolina de Jesus. Segue o link para assistir.
  https://youtu.be/Gn62_WkRh2Q

  Segue um link para acessar ao poema produzido em homenagem a Carolina:

https://www.geledes.org.br/e-so-uma-mulher-negra/









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