sexta-feira, 8 de setembro de 2017

E A COBRA FUMOU – O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL







Após um longo tempo sem uma postagem, estou retornando. Vamos falar sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e para isso precisamos falar sobre a FEB. Criada em 1943, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) combateu com os Aliados nos campos de guerra europeus. Após um acordo que concedia terras do nordeste brasileiro como base para os EUA, o Brasil deixa de ser neutro na Segunda Guerra Mundial e passava a preparar um efetivo de soldados para o combate. A opinião brasileira da época desacreditava que o seu pequeno exército conseguiria ir de fato lutar ao novo mundo, e diz que era mais fácil fazer uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil ir à guerra.






O Brasil só declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) três anos depois do início dos confrontos. Até então, declarava-se neutro, posto que o governo de Getúlio Vargas mantinha fortes ligações comerciais com a Alemanha. O torpedeamento de navios brasileiros somou-se à pressão norte-americana, que estava do lado dos Aliados (com França, Inglaterra e União Soviética).



De 1941 até 1943, 33 navios brasileiros afundaram decorrentes de ataques dos países do Eixo, motivando a população ir às ruas no Rio de Janeiro cobrando um posicionamento de Vargas. Estima-se que 971 brasileiros morreram em virtude desses ataques.



Como barganha, o presidente Vargas aproveitou para obter dos Estados Unidos a promessa de reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras e de construção de uma grande usina siderúrgica, a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. Até aí, ressalta a historiadora Carmen Rigoni, a FEB não tinha sido montada. Vargas, enfim, declarou guerra em agosto de 1942.



No início de março de 1943, Vargas aprovou proposta do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, sugerindo a criação da força expedicionária. O próprio símbolo adotado pela FEB, um escudo com o desenho centralizado de uma cobra fumando cachimbo, surgiu como uma provocação aos que diziam ser mais fácil uma cobra fumar do que o país entrar na guerra.


O historiador Dennison de Oliveira, da UFPR, ressalta que o projeto de mandar as tropas para guerra é brasileiro. “Os Estados Unidos não queriam. Para eles, bastava o apoio formal. Isso reforçaria que os Estados Unidos lutariam pelas Américas”, revela.

No mesmo dia em que Hitler se suicida em Berlim, apresentam-se à FEB como prisioneiros de guerra o comandante da 148ª DI alemã, general Otto Fretter Pico, acompanhado de 31 oficiais.
Outro feito dos pracinhas que entrou para a história foi a detenção da 148.ª Divisão de Infantaria alemã, fazendo 15 mil prisioneiros, incluindo dois generais quando a guerra já rumava para o fim. A FEB encerrou a campanha na Itália como a única divisão daquele front a aprisionar uma divisão alemã inteira.





Abaixo segue a sugestão de livros sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.


Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial, de Francisco César Ferraz que  é um dos historiadores mais categorizados quando o assunto é a participação dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial. “Foi na localidade de Montese que os expedicionários brasileiros enfrentaram o maior número de baixas em sua campanha, em 14 de abril de 1945. 

Barbudos, Sujos e Fatigados — Soldados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial, de Cesar Campaniani Maximiniano que é Doutor em História pela USP. O autor conecta depoimentos dos expedicionários com pesquisa e interpretação histórica rigorosas. Trata-se de uma análise precisa da guerra — sem deixar de ser sua crônica.

1944: O Brasil na Guerra. O livro do historiador Hélio Silva é um clássico, relativamente superado por estudos mais recentes, mas permanece como uma boa crônica factual.

Nossa Segunda Guerra — Os Brasileiros em Combate, 1942-1945,
de Ricardo Bonalume Neto. O autor desmonta o livro do jornalista William Waack, mas sua intenção é mais ampla: é contar como os brasileiros atuaram na Itália, em condições dificílimas.

O Brasil na Mira de Hitler, de Roberto Sander. O jornalista Roberto Sander mostra que os alemães de fato bombardearam navios brasileiros (mais brasileiros morreram devido aos torpedeamentos de navios do que no front italiano). Não foram os americanos para forçar o país a entrar na guerra ao lado dos Aliados. 

A Estrada para Fornovo, de Fernando Lourenço Fernandes.O autor diz que “campanha da Itália” era “uma frente secundária”, o que não quer dizer sem importância. Citando Rubem Braga, o pesquisador anota que o “pessoal da FEB” enfrentou “uma guerra dura, com um contingente mal treinado, mas que se” saiu “bem e dignamente”. Fernandes sustenta que a FEB não enfrentou apenas “divisões fracas” na Itália. 


A Guerra Que Não Acabou — A Reintegração Social dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000), de Francisco César Ferraz, doutor em história pela USP. O autor escreveu um livro crucial para que o leitor entenda o que aconteceu com os pracinhas durante e após a guerra. “Os soldados eram recrutados nas classes mais pobres da sociedade. Alguns dos recrutados viam na instituição militar a garantia de um emprego, refeição, abrigo.

Aliança Brasil-Estados Unidos — 1937-1945, de Frank D. McCann. O brasilianista Frank D. McCann é um dos maiores estudiosos do Exército (“Soldados da Pátria — História do Exército Brasileiro: 1899-1937” é brilhante). O historiador americano registra: “Os alemães estavam estupefatos com a determinação dos brasileiros. Um capitão alemão em Monte Castello contou a um tenente brasileiro feito prisioneiro de guerra: ‘Francamente, vocês brasileiros ou são loucos ou muito corajosos. Nunca vi ninguém avançar contra metralhadoras e posições bem defendidas com tanto desprezo pela vida… Vocês são verdadeiros demônios’”. 

Quebra-Canela — A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália, de Raul da Cruz Lima Junior. Quem viu o  filme “Estrada 47”, de Victor Ferraz, no qual militares brasileiros desmontam minas para a passagem das tropas que atacam nazistas alemães na Itália, certamente apreciará o livro “Quebra-Canela — A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália”, do general Raul da Cruz Lima Junior. “O bravo pelotão da Infantaria do tenente Iporan foi a primeira tropa do 11º RI a penetrar na cidadela de Montese, na tarde do dia 14 de abril de 1945; fê-lo com tal ímpeto que surpreendeu os observadores inimigos postados na torre da Igreja.

Os Soldados Brasileiros de Hitler, de Dennison de Oliveira. O historiador presume “que algumas centenas de brasileiros lutaram na Segunda Guerra Mundial sob a bandeira da Alemanha nazista (leia resenha aqui). O soldado Karl, que nasceu na Alemanha mas morou no Brasil e tinha irmãos brasileiros, lutou ao lado do general alemão Erwin Rommel e morreu em 1942.

Crônicas da Guerra na Itália, de  Rubem Braga. Algumas das mais belas páginas sobre a participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial foram escritas por um correspondente de guerra que também era escritor. 

Os Soldados Alemães de Vargas, de Dennison de Oliveira. O autor  revela que pelo menos 800 dos militares que integraram a FEB eram de origem alemã. Bruno Larsen foi o “único caso de um integrante da FEB que desertou do serviço ativo em face do inimigo e a ele espontaneamente se rendeu [em 3 de dezembro de 1944], tendo colaborado, em algum grau, com informações e serviços em prol do esforço de guerra alemão”. Larsen alegou cansaço de guerra e que “não queria combater contra os alemães”. 

“As Duas Faces da Glória”, do jornalista William Waack. O subtítulo do livro é “A FEB Vista Pelos Seus Aliados e Inimigos”. O livro é frágil, como notaram os historiadores Frank D. McCann e Cesar Campiani Maximiano e o jornalista Ricardo Bonalume Neto. Acredita-se que a razão é a falta de conhecimento das particularidades do meio militar. Pesquisadores chegam a falar em “ignorância”. Mas há também o preconceito contra militares, sobretudo devido à ditadura instalada no país em 1964.

Senta a Pua!, de Rui Moreira Lima. A história da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial é quase sempre vista do prisma do Exército. Por isso, e por sua alta qualidade, o livro “Senta a Pua!” é importante. Trata-se da “história dos homens que integraram o Grupo de Caça Brasileiro e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO)”. Rui Moreira Lima participou da batalha e foi um piloto bem-sucedido. Ele executou 94 missões nos céus da Itália. 
  Para concluir nossa abordagem sugiro assistir ao filme A estrada 47, que versa sobre a participação do Brasil na 2GM. Segue o link abaixo.

https://youtu.be/HiJxaJKkzLM




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